Noéli Nobre
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Com bebida, funciona. Mas, com cigarro, a frase "fume com moderação" não pegou bem. Essa é a opinião da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autuou hoje a fábrica de cigarros Souza Cruz, por considerar que a empresa fez propaganda enganosa do produto. A Souza Cruz publicou cartazes com frases do tipo "Divirta-se em excesso, fume com moderação" em pontos de venda de cigarro.
De acordo com o gerente de controle de produtos derivados do tabaco da Anvisa, Moysés Diskin, a campanha publicitária desrespeitou a legislação brasileira. "Isso desrespeita a lei 9.294 de 1996, que diz que a propaganda comercial dos produtos derivados do tabaco não pode induzir as pessoas ao consumo." Além disso, a propaganda atribui ao produto propriedades calmantes e estimulantes, o que também é proibido por lei.
Moysés Diskin ressaltou ainda que não existem níveis seguros para fumar. Tanto faz fumar muito ou pouco. O hábito faz mal à saúde do mesmo jeito. Questionado sobre a expressão "beber com moderação", Diskin, argumentou que apenas 10% das pessoas que bebem ficam viciadas, contra 90% das pessoas que fumam.
Fumante há 21 anos, o publicitário Almir Rodrigues, de 39, concorda com Diskin. "Fumar com moderação não quer dizer que vá fazer menos mal. Eu acho que o legal é não fumar. Mesmo como fumante, eu dou esse recado."
Em texto veiculado na internet em 1º de setembro, o gerente de assuntos corporativos da Souza Cruz, João Paulo Gava, explicou que a expressão "fumar com moderação" significa apenas diminuir o consumo de cigarros. Mas ele reconhece que a maneira de evitar riscos é não fumar.
A Souza Cruz ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto, porque não recebeu a notificação da infração. Mas Moysés Diskin, da Anvisa, afirmou que a empresa tem 15 dias para, a partir do auto, retirar os cartazes e se defender. E ainda pode pagar uma multa de até cem mil reais.