Pesquisa detecta aumento da tolerância do brasileiro com governo Lula

15/07/2003 - 15h56

Brasília, 15/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - O brasileiro está disposto a esperar um ano e nove meses, em média, para que o problema do desemprego seja solucionado. É o que indica pesquisa do Instituto Sensus, encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), divulgada nesta terça-feira. O levantamento revela que o brasileiro está um pouco mais tolerante, disposto a dar mais tempo para o governo Lula amadurecer medidas capazes de mudar a sua vida. De 2,4 anos, em média, verificados na pesquisa anterior, esse prazo passou para 2,5 anos. No início do governo, o tempo médio para Lula promover mudanças na vida da população era de 1,8 ano.

Para o presidente da CNT, Clésio Andrade, o levantamento mostra forte expectativa da população em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De um total de dois mil entrevistados entre os dias 9 e 11 de julho, 41,4% consideraram o governo Fernando Henrique Cardoso responsável pelos altos índices de desemprego no país. Entre os problemas deixados para Lula, conforme a pesquisa, estaria o aumento da carga tributária nos oito anos em que esteve no poder. "Esse governo vem adotando medidas duras, mas, nesse momento, as pessoas consideram que o erro vem lá de trás. Então, Lula tem que adotar medidas duras para poder, depois, consertar mais à frente", interpretou Andrade.

Para 19,9% das pessoas ouvidas na pesquisa, o culpado pelo grande número de brasileiros desocupados é a inflação. O governo Lula aparece em terceiro lugar, com 6,1%, seguido de empresas (5,6%) e bancos (1,8%). Na avaliação de 16,3% dos entrevistados, cada um desses fatores tem parcela de responsabilidade pelo desemprego e 9,1% não responderam ou não souberam responder.

Em relação à pesquisa feita após a posse de Lula, em janeiro, os dados mais recentes mostram que o número de pessoas confiantes na redução do desemprego durante o governo Lula diminuiu de 78,2% para 59,2%. Enquanto isso, a parcela de entrevistados que acreditam no aumento do desemprego na atual gestão passou de 10,3 % (janeiro) para 22,8% (julho). A margem de erro da pesquisa CNT/Sensus é de até 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

A pesquisa foi realizada em 195 municípios de 24 estados das cinco Regiões. Para 22,6% dos entrevistados, o presidente necessitará de outro mandato para conseguir mudar a vida dos brasileiros, índice que, em maio, era de 20,4%. De acordo com Clésio Andrade, os números têm ligação com a confiança que grande parte dos brasileiros depositam em Lula, que mantém a popularidade alta após seis meses de governo. Do total de entrevistados, 77,6% disseram que aprovam o desempenho pessoal do presidente, enquanto 14,4% desaprovam.

"Como as pessoas acreditam fortemente no presidente, o nível de tolerância também aumenta, ou seja, as pessoas começam a dar um prazo maior para se corrigir os problemas. Elas pensam: se o presidente Lula não fizer, é porque não deixaram fazer", observou Andrade. No entendimento dele, a pesquisa mostra que a população, em geral, separa a imagem de Lula do governo.

Prova disso, destacou Andrade, é que a pesquisa também mostra a redução da avaliação positiva do governo Lula. De 51,6% em maio, esse índice caiu para 46,3% em julho, enquanto a avaliação negativa subiu de 7,2% para 10,3%. A avaliação regular variou de 35,7% em maio para 38,8% em julho. Segundo Andrade, a queda da avaliação positiva do governo se deve, entre outros fatores, à demora na retomada do crescimento econômico e na aprovação das reformas da previdência e tributária.

A maioria dos entrevistados (83,5%) acha que o brasileiro paga muitos impostos e tributos. No entendimento de 7,2%, a população paga o que é justo e apenas 5,7% acham que pagam pouco. Dos dois mil entrevistados, 76,2% pensam que o governo arrecada muito e aplica mal os recursos, enquanto 5,5% acham que, apesar de arrecadar bastante, o governo usa bem o dinheiro. Apenas 8,2% consideram a arrecadação de impostos pequena.

O número de pessoas que consideram positiva a atuação da equipe de Lula também sofreu queda, passando de 52,6% para 47,9%. No que se refere a promessas da campanha presidencial, 58,6% dos entrevistados acham que estão sendo cumpridas, enquanto 30,9% pensam o contrário. Na pesquisa anterior, esses índices foram de 62% e 28,9%, respectivamente. Lula vai fazer um governo bom ou ótimo na opinião de 65,2% dos entrevistados (índice que foi de 69,7% na pesquisa anterior) e ruim ou péssimo para 7,2% (6,6% em maio).

O levantamento também apurou quais são as instituições em que os brasileiros mais confiam. Como na pesquisa feita em maio, a Igreja aparece em primeiro lugar, só que conquistou mais adeptos nesta última edição: o número de pessoas que elegeram a instituição passou de 36,3% para 44,3% do total.

As Forças Armadas perderam crédito perante a população, mas ainda ocupam o segundo lugar, com a preferência de 12% do total, índice que, em maio, foi de 19,3%. O mesmo ocorreu com a Justiça, que ocupa a quarta posição, após a imprensa e meios de comunicação. Antes considerada a instituição mais confiável por 14,9% dos entrevistados, a Justiça foi escolhida, neste último levantamento, por 9,7% do total.

Para o presidente da CNT, a queda dos índices, tanto no caso das Forças Armadas quanto da Justiça, traduz o desejo da população de que as mudanças no sistema previdenciário também atinjam os profissionais dessas instituições, que gozam de privilégios em relação às demais categorias.

Na lista de instituições mais confiáveis, o Congresso Nacional aparece em última colocação, com a preferência 1,5% dos entrevistados, atrás também da Polícia (5,4%) e do Governo Federal (4,1%). Clésio Andrade observou que o descontentamento da população com os políticos também pode ser verificado a partir de outro item da pesquisa, que trata de financiamento de campanha.

Para 35,9% das pessoas, o candidato deve financiar as campanhas políticas com recursos próprios e, para 25,1%, deve contar também com o apoio financeiro do partido. A legenda deve custear os gastos no entendimento de 17,2% dos entrevistados e os recursos devem vir de doações para 6,3% dos entrevistados.

Mas apenas 2,3% acham que as campanhas devem ser financiadas com dinheiro público, de um fundo legalmente constituído, como prevê a proposta de reforma política. "As pessoas têm a impressão de que o político trabalha pouco, ganha muito e por isso é ele que tem de gastar o seu dinheiro", explicou o presidente da CNT. A pesquisa também mostra que 48% dos entrevistados são contrários ao financiamento das candidaturas por parte de empresas, 20,7% são a favor e 14,2% condicionam a permissão a limites fixados previamente em lei.

A pesquisa também ouviu o que a população pensa a respeito da proibição de porte de armas para os cidadãos em geral: 63,6% das pessoas são a favor da medida, defendida pelo Governo Federal, e 32,1% defendem a liberação do porte. Clésio Andrade lembrou que uso o de armas é freqüentemente associado ao aumento da criminalidade, uma das maiores preocupações dos brasileiros.

Para 86,4% dos entrevistados, a violência aumentou nos últimos seis meses e a expectativa é de que o problema se agrave no próximo semestre, para 41,4% do total. Na opinião de 31,6% das pessoas, a violência diminuirá até o final do ano e para 24,5% permanecerá igual. De acordo com a pesquisa, a área de segurança mereceu dos entrevistados, numa escala de 0 a 10, nota média de 3,6, a mais baixa dos quatro setores analisados. Os outros três foram educação, que recebeu 5,8; saúde, nota 5,2 e estradas, 3,9.

Os índices relacionados à situação social permaneceram estáveis na comparação com o levantamento anterior, assim como o Índice de Satisfação do Cidadão (ISC), que ficou em 51,21% em julho, contra 51,25% em maio. No que se refere ao aumento de renda, a pesquisa mostra que o brasileiro está menos otimista: 38,3% acham possível a recuperação de renda nos próximos seis meses, contra 40% em maio. Para 90,5% dos entrevistados, os preços subiram este ano, enquanto apenas 1,8% acham que permanecem estáveis e 2,9%, que baixaram. (veja quadros)