Lula acerta ao radicalizar políticas de FHC, diz 'pai' da Terceira Via

15/07/2003 - 17h07

Londres, 15/7/2003 (Agência Brasil - ABr/BBC Brasil) - "O presidente Luís Inácio Lula da Silva está certo ao radicalizar algumas das políticas de Fernando Henrique Cardoso", disse o pai da chamada Terceira Via, o sociólogo Anthony Giddens, em entrevista exclusiva à BBC Brasil.

Segundo Giddens, Lula é motivado pela "necessidade de buscar uma sociedade mais justa no Brasil e de combater a fome". "Tenho certeza de que Tony Blair endossa essa visão", disse Giddens, que é próximo ao primeiro-ministro britânico. O acadêmico é diretor da London School of Economics, a LSE, é tido como uma das principais influências teóricas sobre o chamado New Labour, o "novo trabalhismo", a revisão ideológica imposta ao Partido Trabalhista britânico por Tony Blair nos anos 90.

Social-democratas

Com o sucesso nas urnas do Partido Trabalhista, a Terceria Via passou a ser uma referência internacional para os partidos social-democratas, inclusive na América Latina. A trajetória de Lula na Presidência, ao tentar seguir as regras do mercado econômico, mantendo a preocupação com o social, é vista, por muitos, como semelhante à traçada por Blair nos primeiros anos em que esteve no poder na Grã-Bretanha.

"Eles (Lula e Blair) são diferentes por que governam países diferentes. Mas se aproximam em alguns aspectos, como nas estratégias de combate à pobreza no mundo", disse Giddens.

Anthony Giddens participou da palestra dada por Lula na LSE na segunda-feira e causou sensação ao dizer que o presidente poderia mudar não apenas o Brasil, mas o mundo.

"Lula é uma figura conhecida mundialmente, por causa de sua presença e seu carisma", explicou ele à BBC Brasil.
Os pontos mais importantes da "agenda" internacional de Lula seriam a pressão por maior distribuição de ajuda internacional, pelo fim dos subsídios agrícolas e por uma representatividade maior das nações em desenvolvimento nas instituições internacionais.

"Lula está certo ao pressionar para que as nações mais ricas dêem parte de seu PIB para ajudar os países menos desenvolvidos."

"No momento, apenas um ou dois países do mundo, como a Suécia por exemplo, encaminham a parte do PIB recomendada pela ONU para ajudar os paises mais pobres", afirmou o sociólogo.

Mercado agrícola
Mas o "mais importante" para os países em desenvolvimento seria a abertura do mercado agrícola dos países industrializados.

"O mercado mundial é hipócrita", disse Giddens. "Os países da União Européia mantêm a política agrícola comum, os Estados Unidos mantêm os subsídios a seus fazendeiros, não há abertura do mercado agrícola".

"E há a questão do equilíbrio de poder no mundo. Lula está certo ao pleitear um papel maior para o Brasil nas Nações Unidas."

Sobre os rumos da Terceira Via hoje, Giddens disse que o termo é "apenas um rótulo bastante amplo, para discutir a atualização da social-democracia".

Giddens disse que Lula se encaixa no pensamento teórico da Terceira Via, porque "é um social-democrata que quer ajudar os mais pobres e, ao mesmo tempo, promover o crescimento econômico".