''Terceira Via'' será debatida hoje em Londres por 16 chefes de governo

13/07/2003 - 9h04

Londres (Inglaterra), 13/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - Os caminhos que vão tomar a Governança Progressista, a chamada "Terceira Via", serão debatidos hoje, em Londres, por 16 chefes de governo das principais economias mundiais, entre eles, o presidente Luís Inácio Lula da Silva. A reunião da Cúpula da Governança Progressista faz parte da visita de trabalho de Lula a Londres. O presidente tem hoje encontro com o primeiro-ministro britânico Tony Blair, almoça com ele e, em seguida, participa da Cúpula da Governança Progressista.

Além de Brasil e Reino-Unido, participam da reunião da Cúpula, Itália, França, Alemanha, Inglaterra, Suécia, Polônia, Hungria, Argentina, África do Sul, Etiópia, Chile, Grécia, República Tcheca e Romênia. A Terceira Via foi criada dentro do partido trabalhista de Tony Blair, fundado em 1900, e tem por ideologia o crescimento econômico com base na justiça social e na liberdade política.

Questiona-se se Lula abandonou a retórica esquerdista tradicional do início de sua carreira política em favor de uma posição semelhante a dos partidos social-democratas da Europa.
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico e Social, ministro Tarso Genro, a aceitação de Lula ao convite feito por Blair para participar da Cúpula, é uma forma de o presidente explanar a concepção do Partido dos Trabalhadores (PT), que é um partido de esquerda, mas que governa com a coalisão de centro-esquerda. "Temos responsabilidade de manter essa coalisão funcionando. Senão acabamos inviabilizando o próprio governo. Essa visão de que a Cúpula da Governança Progressista completa o ciclo de conversão do núcleo do PT não tem fundamento político", ressaltou Tarso Genro.

O ministro afirma que a Terceira Via foi formada por países altamente desenvolvidos para resolver problemas originados do Estado de Bem-Estar o que, eventualmente, promoveu o crescimento desses países. Mas destacou que a concepção de Terceira Via não se adequa à natureza dos problemas e às questões relacionadas com a reforma do Estado brasileiro. "A Terceira Via foi compreendida pelo ministro Blair, que é um político e um intelectual respeitado, e não significa um debate nosso de adesão à essas concepções. Assim como o presidente debate com o Hugo Chávez, com o Fidel Castro, com o Bush, está debatendo também no âmbito da mudança de produção política do ministro Blair", afirmou Tarso Genro.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, lembrou que existe interesse do primeiro- ministro britânico em ter a participação de um grande líder do mundo em desenvolvimento. Celso Amorim considera Lula um elemento importante para o movimento da Governança Progressista.
"Lula tem uma mensagem de reforma social dentro do contexto democrático de uma reforma real. Uma mudança de estrutura pela via pacífica. Como ele é indiscutivelmente progressista no melhor sentido da palavra, acho que o convite é natural", declarou Celso Amorim.

O ministro ressaltou a importância para o Brasil de o presidente Lula utilizar todas as plataformas existentes para levar sua mensagem, "mesmo que ela não seja exatamente o que as pessoas querem ou pensam que vão ouvir". Os ideais da Governança Progressista passam pela busca de um novo papel para o Estado e de um melhor relacionamento da comunidade internacional globalizada. Nesse contexto, as relações devem passar por mudanças de mercado, redução de barreiras tarifárias, estabilidade da moeda e controle da inflação.
A Governança Progressista rejeita o estatismo burocrático da velha esquerda e os postulados neoliberais do Estado mínimo, para tornar a administração pública mais transparente na implementação de políticas de reestruturação do Estado e do governo. Passa por mudanças na democracia, pela reformulação dos sistemas de seguridade social e do mercado de trabalho.

Nádia Faggiani