Reforma agrária ocorrerá no ''tempo certo'', diz Lula

13/07/2003 - 17h47

Londres, 13/7/2003 (BBC Brasil/Agência Brasil - ABr) - O processo de reforma agrária no Brasil precisa ocorrer no "tempo certo" e não no ritmo desejado pelos maiores entusiastas ou pelos maiores críticos da idéia. Essa é a posição apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em entrevista exclusiva à BBC Brasil, em Londres, criticou o que chamou de "preconceito" contra os sem-terra.

"Nós nem vamos fazer (a reforma agrária) na pressa que os sem-terra querem, nem na lerdeza que querem os que são contra a reforma agrária", afirmou Lula. "Nós vamos fazer no tempo certo." O presidente respondeu a perguntas de leitores do site da BBC Brasil e de outros sites da BBC, que enviaram cerca de 5.000 questões para a entrevista.

Polêmica do boné

O leitor Carlos Palmero, de Campo Grande (MS), quis saber por que Lula vestiu o boné do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ao receber uma comitiva do movimento, em Brasília.

"Eu devo ter umas cem fotos com o boné dos sem-terra ao longo desses 20 anos, umas 50 com o boné da CUT", disse o presidente. É até uma gentileza você colocar um boné, uma camiseta", afirmou Lula, que criticou a forma como o movimento dos sem-terra é visto no Brasil. Eu, sinceramente, não esperava que o preconceito contra os sem-terra fosse de tamanha envergadura."

Lula afirmou que aqueles que lutam pela terra no Brasil entendem as limitações do governo federal nessa área. "Os sem-terra estão conscientes de que a reforma agrária tem que ser feita dentro de limitações de investimentos do Estado."

Situação dos assentados

O presidente disse que os novos assentamentos não podem repetir o modelo adotado no passado que, segundo ele, permitiu que assentados vivam hoje na pobreza. "Não basta você assentar. Hoje você tem quase 80% das pessoas assentadas vivendo em situações de pobreza", afirmou.

"Nós vamos tentar assentar dando aos assentamentos uma nova característica. Ou seja, vamos ter de fazer as chamadas agrovilas, criar condições de ter uma comunidade com hospital, escola etc."

Lula afirmou que o radicalismo de parte do movimento dos sem-terra surge entre aqueles que ainda não foram assentados e esperam há anos por uma oportunidade. "Tem gente acampada há seis anos e meio, há quatro anos e meio. E essas pessoas, obviamente, estão radicalizadas. Eu acho que nós temos que ter a responsabilidade de assentá-las."

As informações são da BBC Brasil.

IDM