Lula vai se dedicar mais à reforma agrária para evitar problemas

25/06/2003 - 21h52

Brasília, 26/06/2003 (Agência Brasil-ABr) - No encerramento do 2º Congresso Brasileiro de Agrobusiness, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu que vai dedicar mais tempo à reforma agrária, "com o mesmo carinho" que cuidou até agora do agronegócio nacional. "Este é um tema, que se nós não cuidarmos, ele pode ficar delicado. Em política tudo o que se demora a cuidar, vira mais problemático. Nós não temos tempo para problemas", afirmou, ao garantir que não vai repetir "retrocesso". O presidente foi aplaudido por uma platéia formada por empresários da agropecuária brasileira, no auditório do Itamaraty.

Lula lembrou ter passado a campanha inteira prometendo uma reforma agrária pacífica e que agora vai dedicar um espaço muito importante "desta outra parte da sociedade brasileira, que precisa de uma ação e da compreensão do Governo". Contou que em conversa recente com o ministro Roberto Rodrigues, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, comentou os novos tempos e que a reforma agrária não merece agora, o mesmo tratamento do século XIX, porque a forma de produção no campo é diferente, com tecnologia. "A reforma agrária não pressupõe que coloquemos um camponês em uma área para ele plantar apenas milho e mandioca e viver da cultura de subsistência".

Nesta linha de raciocínio, o presidente Lula voltou a defender que não basta dar a terra. "Nós precisamos levar tecnologia para esta gente, eles têm que produzir, aprender que é importante conquistar e ganhar um pouco de dinheiro para ter acesso a bens materiais, porque o Brasil precisa disso, e nós vamos fazer".

Lula começou o discurso com bom humor, chegando a fazer brincadeiras que provocaram risos da platéia. Mas o tom de seriedade predominou quando falou sobre os incentivos à agropecuária nacional. "Nós não vamos parar por aqui. Se depender do Governo, a gente está muito mais ousado, muito mais ambicioso, acreditando e precisando de vocês (do agronegócio) mais do que em qualquer outro momento da nossa história".

No setor agrícola, afirmou, o Brasil conquistou a maioridade e não vai ficar pedindo licença aos outros para mostrar competência, capacidade produtiva e de conquistar mercados, "se a disputa for efetivamente livre e com igualdade nesta disputa". Não faltou um leve puxão de orelhas nos responsáveis pela abertura do mercado externo: "Eu fico pensando, toda a vez que a gente quer negociar e fica pedindo para aqueles que competem conosco, licença para a gente entrar, nós nunca vamos conseguir. Precisamos mostrar nossas alternativas para fazer negócios, apesar deles".

Ainda este ano o presidente Lula deve, pessoalmente, buscar novos mercados, na África especialmente a do Sul, e no Oriente Médio. Para ele, todos devem ter sonhos maiores para o Brasil e lembrou o setor do açúcar e do álcool, que tem uma tecnologia de matriz energética renovável. Ele considerou o mercado possível no mundo se todos os países cumprirem o protocolo de Kyoto, até 2008, adicionando 10% de mistura de álcool à gasolina. "Essas coisas não acontecem apenas porque nós produzimos. É preciso sermos ousados na venda dos nosso produto".