Evian (França), 1/6/2003 (Agência Brasil - ABr) - Os países em desenvolvimento encerraram hoje a sua participação no encontro do G-8, mas algumas de suas proposições terão repercussão amanhã (2), quando o evento será restrito aos representantes dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia. Uma delas será a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de criação de um fundo internacional de combate à fome, a ser introduzida na pauta pelo presidente do G-8, Jacques Chirac.
Em entrevista coletiva, Chirac fez elogios ao discurso de Lula, dizendo ter sido muito claro. Ele afirmou que concorda totalmente com a proposta, mas ponderou sobre a viablidade técnica para se criar mecanismos de distribuição do fundo.
Um outro tema abordado por Lula foi reforçado pelo diretor-gerente do Fundo Monetário Internaciona, Horst Köhler. Lula cobrou coerência dos países na promoção do crescimento econômico das nações em desenvolvimento. "O Brasil e muitos países em desenvolvimento fizeram, na última década, o esforço exigido pelas estratégias econômicas predominantes. Mas não houve avanços importantes no combate à exclusão social. Ao contrário, onde o fundamentalismo imperou não se alcançou a prometida estabilidade econômica", declarou Lula.
Köhler comentou que os países ricos fizeram a exigência de austeridade fiscal, mas só têm produzido déficits. Na entrevista coletiva, Lula disse que achou importante a cobrança do presidente do FMI por uma posição tanto dos Estados Unidos quanto da Europa. "Ele cobrou uma preocupação para que tomem medidas para evitar a crise senão será desastroso para o mundo nos próximos anos", disse o presidente.
Entre o almoço em que foram antecipados alguns temas dos discursos e a reunião de trabalho, duas horas depois, Lula conversou por alguns minutos com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, nos jardins do Hotel Royal Parc de Evian. Em uma conversa informal, eles levantaram alguns assuntos a serem abordados no encontro oficial que terão no dia 20, na Casa Branca, em Washington. Lula não quis antecipar o assunto, alegando questões diplomáticas, mas o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, adiantou que serão abordados temas da área comercial e cooperações nas áreas de educação e ciência e tecnologia.
O presidente brasileiro também enfatizou, por diversos momentos, a importância da cooperação entre os países em desenvolvimento para vencer os desafios da falta de crescimento. "Uma coisa importante, que pelo menos eu descobri, é que os países em desenvolvimento não precisam ficar esperando os países do G-8 convidar para que a gente faça as reuniões que a gente tem que fazer", disse ele aos jornalistas.
Lula aproveitou a estada em Evian para já por em prática as suas teses. Realizou encontros bilaterais com os representantes do Senegal, África do Sul, Arábia Saudita, Argélia e Nigéria. Amanhã (2), os encontros prosseguem com os líderes da China e da Índia.
Tambem estão programadas, para os próximos meses, visitas à África do Sul, Oriente Médio e, provavelmente, Rússia.
No encontro com o presidente da Argélia, Addelaziz Boutlefika, Lula anunciou a ajuda humanitária ao país, vitimado recentemente por terremoto. A Vladimir Putin, da Rússia, convidou para uma visita ao Brasil. Mas, segundo Amorim, o mais provável é que Lula vá a Moscou, já que o país se prepara para eleições em março.