Racismo e baixa autoestima levam cotistas a se esconder, diz pesquisadora

28/07/2009 - 8h19

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Ana Paula Meiraafirma que estudantes cotistas, mesmo depois de passar em concorridosvestibulares, ainda se escondem por causa de baixa autoestima e doracismo. “O racismo coloca as pessoas sempre à margem. Vocêduvida que possa estar fazendo o que é certo, que pode ser bonita einteligente”, afirma Ana Paula. “É dificílimo achar um cotista, as pessoas se escondem”,descreve a mestranda em PolíticaPública e Gestão de Educação pela Faculdade de Educaçãoda Universidade de Brasília (UnB).Apesar deter conseguido falar com quase uma centena de alunos, Ana Paulaavalia que os cotistas “tem medo dizer” e temem reações quepossam causar ao assumir que são cotistas. “Para não seprejudicarem, eles se esquivam”. O comportamento, na avaliação da pesquisadora que deve defender suadissertação até o fim do ano,guarda relação com a “baixíssima” autoestima dos estudantes ecom o racismo.Apesquisa de Ana Paula Meira tenta entender “o fenômeno” e trazlevantamento de trajetórias e histórico escolar de cadaentrevistado, fazendo recorte por classe, gênero e identidade.Segundo ela, a UnB tem “mudado lentamente” com a políticaafirmativa. “Existe uma presença negra que não é só a presençado estudante da embaixada africana.”Para apesquisadora, no entanto, há setores “elitizados” nauniversidade que são contra a política de cotas. A oposição tem a ver comdisputas simbólicas e de mercado de trabalho. “A vaga na UnB noimaginário brasilense é super disputada. Estudar lá, especialmenteem certos cursos, significa ter status.”Ana PaulaMeira critica a iniciativa do partido Democratas que entrou com umaação no Supremo Tribunal Federal contra o sistema de cotas. Elaclassifica a iniciativa de “reacionária” e refuta o argumento deque o recorte pela renda tornaria a política afirmativa mais justa eeficaz. “A maioria dos negros é pobre, mas o que está em voga nãoé só o econômico. O que socialmente está torto é o racismo”, defende.