Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O secretário de RelaçõesInternacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento, Célio Porto, afirmou hoje (2) que os primeirosresultados da balança comercial neste ano são positivos,porque os preços agrícolas e os volumes negociados, quecaíram expressivamente no ano passado, se recuperaram. Porto disse que as exportaçõesdeverão cair 11% neste ano – a primeira queda em dez anos.“Porém, em reais, supondo um câmbio a R$ 2,30,teríamos um aumento da receita de 12%”, disse o secretário,após participar de reunião com o Conselho Superior doAgronegócio da Federação das Indústriasdo Estado de São Paulo (Fiesp).O secretário ressaltou que, mesmo emrecessão, o mundo não diminui sua demanda poralimentos. Por esse motivo, não há possibilidade dequeda de consumo. Entretanto, se houver redução deconsumo e compra, isso deve ocorrer apenas com fornecedores quevendem a preços mais elevados, o que não é ocaso do Brasil. “Estimamos que, exceto para um ou outro setor,as quantidades exportadas se mantenham e que os preçosnão cheguem aos patamares de 2008.”A carne bovina é o produto que gera maispreocupação para o governo, já que registrouqueda de 20% nas exportações com relaçãoao ano anterior e os dados de janeiro já indicam queda de 35%.“Há o efeito de redução da oferta, porque houveredução na oferta de rebanhos e isso estáprejudicando, além da queda nos preços, também”.Porto reforçou que o neoprotecionismoé outro motivo de preocupação, porque o Brasil é um grande exportadoragrícola. O secretário citou também dadosdo Banco Central indicando que a liberação de créditoainda registra números muito baixos, se comparados aos deigual período no ano passado. Já o presidente do Conselho Superior doAgronegócio da Fiesp, Roberto Rodrigues, disse que o cenáriopara o agronegócio brasileiro é de demanda aquecida ede oferta não acompanhando essa demanda, o que resultaria empreços razoavelmente positivos para a agricultura. “Sóque não se considera o efeito de uma recessão queatinja os países emergentes e seus preços e osmecanismos do neoprotecionismo, que vêm crescendo no mundo inteiro, o que pode inibir a formação de mercados.” Rodrigues ressaltou que o créditooferecido para as exportações ainda não éadequado com relação à demanda. Segundo Rodrigues, sehá um cenário mundial em que todos os paísescriam barreiras de proteção e algum deles não fazisso, fica exposto a uma concorrência predatória.“Então, o Brasil tem que entrar no jogo doneoprotecionismo.”Ex-ministro da Agricultura, o economista eprofessor de Universidade de São Paulo (USP) Roberto Rodriguescomentou também a crise atual, que, segundo ele, tende a sermais leve para o setor agrícola do que para outros setores.“Perde-se um pouco de preço em dólar, em quantidade,mas, quando se faz o ajuste da nossa taxa de câmbio, vê-seque não haverá impacto de renda negativo sobre o setoragrícola.”Ele explicou que as projeções sãofeitas supondo que nenhum país adotará medidasprotecionistas para seus produtos agrícolas, o que éprovocado por grupos de países que têm interessescomuns. Rodrigues disse que é possível alguns paísesasiáticos com excedente agrícola combinarem com aChina, mas ressaltou que, nesse caso, a reclamação doBrasil teria pouca expressão política para aqueleconjunto de países. “É preciso ficar muito alertapara esse tipo de reação e ficar com países comquem possamos fazer uma política compensatória”,concluiu.