Edição atual não deve ser usada como palanque eleitoral, diz fundadora do evento

24/01/2009 - 17h51

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Nas ediçãoanteriores, o Fórum Social Mundial (FSM) foi muitas vezes usadocomo palanque político para presidentes, governadores e outrasautoridades. Neste ano, em Belém, opresidente Luiz Inácio Lula da Silva, 12 ministros, governadores e outros quatro presidentes de países da América Latina já confirmarampresença. A diretora da Rede Social de Justiça eDireitos Humanos e uma das criadoras do evento, Maria Luiza Mendonça,acredita que o problema não vai se repetir nesta edição.“Espero querealmente o protagonismo seja das organizaçõespopulares, das organizações de base. Espero que esse fórum não seja um palanque eleitoral, não sejausado de forma eleitoreira. Se isso acontecer realmente o evento vai perder seu principal objetivo que é a construçãode um mundo mais justo, mais igualitário e a defesa de umoutro modelo de desenvolvimento”, afirmou em entrevista àAgência Brasil.Para Maria Luiza, nestaedição será mais difícil o governoconseguir se auto-promover porque as atuais políticasadotadas vão de encontro aos princípios doFSM. Segundo ela, o cenário é diferente de2001, ano da primeira edição, em PortoAlegre. “Uma coisa é você defender os mesmos ideaisque o governo local e atualmente isso não ocorre. As lutas doFórum continuam as mesmas, mas em relação àadministração petista e ao modelo de desenvolvimentoadotado por esse governo, eu acredito que vai gerar muito maiscríticas e polêmicas do que na época do governopetista do Olívio Dutra em Porto Alegre, que era mesmo umsímbolo de democracia participativa.”Uma das grandescríticas da organizadora ao governo federal refere-se ao modelo de desenvolvimento adotado. Elaacredita que esses debates serão aprofundados no Fórum. “Por ser na Amazônia eu acho que a gente vai ter um debatesobre o próprio modelo de desenvolvimento que o Brasil vemadotando. Na nossa avaliação é um modelopredatório que ainda prioriza grandes projetos energéticos,agrícolas e de mineração que vem causando umadevastação enorme da Amazônia. O Brasil écampeão em desmatamento de florestas tropicais”, critica. Maria Luiza defende quea saída da ministra Marina Silva do governo, em abril de 2007,simboliza a postura do governo em priorizar grandes projetos e oagronegócio em detrimento da preservaçãoambiental. “Além disso, há ainda a própriarepressão aos movimentos sociais que continua acontecendo,assassinatos de trabalhadores rurais, de indígenas, detrabalho escravo nas comunidades da Amazônia. Isso vai representar uma contradiçãodurante o evento”, apontou. Outra temáticaque pode estar presente nas discussões é a novaformatação política da América Latina.Para Maria Luiza, atualmente o Brasil está de fora do“movimento progressista” presente nos países latinos. “AAmérica Latina vive um momento político interessante. Oavanço das lutas sociais realmente possibilitou a eleiçãode governos progressistas na Venezuela, na Bolívia, noEquador. Mas em relação ao governo brasileiro eu achoque existem mais contradições do que nos outrospaíses”, comparou. Além dasquestões políticas e ambientais, Maria Luiza diz queas crises econômica e alimentar serão grandes focos daedição 2009 do Fórum. “Mas é claro que ele se pauta por uma diversidade de organizaçõese pontos de vista. Essa é uma das característicasprincipais do evento”. A eleição de Barack Obama para presidência dos Estados Unidos e a guerraentre Hamas e Israel na faixa de Gaza são outros temas quedevem marcar a nona edição do evento.