Com posse de Obama, Unger acredita que Brasil poderá intensificar projetos com os EUA

19/01/2009 - 5h09

Marco Antonio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ministro deAssuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, vê apossibilidade de uma relação mais intensaentre Brasil e Estados Unidos a partir da posse de Barack Obama naPresidência. Unger avalia que os EUA passarão por algoalém da troca de governo, que se caracterizará por uma“mudança de sensibilidade e orientação”, a ser aproveitada pelo Brasil para a reduçãodas divergências bilaterais. “Nós teríamos uma oportunidadeextraordinária de abrir um novo tipo de relaçãocom os EUA. Temos contenciosos preexistentes, como as divergênciasem relação ao protecionismo agrícola,exemplificado pela rivalidade entre o etanol brasileiro e oamericano. Mas tudo isso é café pequeno, comparado comas oportunidades que temos pela frente. Não imagino que essasrivalidades vão se esvair instantaneamente, mas proponho queas coloquemos de lado e abramos novas frentes de colaboração”,afirmou Unger, em entrevista exclusiva à AgênciaBrasil. Os esforços conjuntos de Brasil e EstadosUnidos passam, segundo o ministro, pela construção derespostas à crise mundial e por “experimentosinstitucionais” que resultem na ampliação dasoportunidades de aprendizado, trabalho e produção nospaíses. As áreas consideradas mais propícias porUnger são o desenvolvimento dos agrocombustíveis, aeducação e o fomento às pequenas empresas. Ele destaca o potencial privilegiado dos doispaíses em fontes de energia renováveis como elementocapaz de suscitar ações a quatro mãos para aorganização de um mercado mundial de agrocombustíveis,com intercâmbio científico e tecnológico. “Acurto prazo, pela nossa condição tropical, seríamosmais beneficiados, mas a longo prazo o mundo todo se beneficiará,porque a tendência do avanço científico éatenuar a relevância da geografia”, disse Unger.No campo educacional, Unger argumentou que os doispaíses têm o desafio de garantir a gestãolocal das escolas por estados e municípios com padrõesnacionais de investimento e qualidade. “Estou trabalhando comFernando Haddad [ministro da Educação brasileiro]em uma proposta para associar os três níveis dafederação em órgãos conjuntos, paraconsertar e recuperar sistemas locais de educaçãodefeituosos, que tenham caído abaixo dos patamares mínimosaceitáveis. Se pudermos fazer isso com os EUA, seráfabuloso.”Em relação às pequenas emédias empresas, o ministro disse que os paísesdeveriam focar a modernização tecnológica paraque haja “um dínamo de crescimento includente”.O ministro defende mudanças na relaçãojá existente entre as estruturas militares dos países,hoje pautada pela importação de produtos americanos epelo desejo dos EUA de engajar o Brasil em operações“quase policiais” contra o narcotráfico na AméricaLatina e no Caribe. “Temos que substituir essa agenda por outra, decolaboração em pesquisa e produção navanguarda tecnológica de defesa, além da troca deidéias e pessoas entre nós. Não estamosinteressados em ajudar outro país a policiar o mundo, massim em discutir com os EUA os instrumentos de uma cultura militarvanguardista pautada pelo ideal de flexibilidade”, ressaltou Unger.Por fim, o ministro aponta a possibilidade de o Brasilexercer papel decisivo em uma eventual reconciliaçãoentre Estados Unidos e Cuba. “Aí podemos desempenhar umpapel. É difícil para os EUA avançar para umareconciliação sem que haja em Cuba gestossignificativos em matéria de direitos humanos e liberdadespúblicas. Temos um interesse estratégico nessareconciliação, porque os antagonismos são umaferida aberta que serve como obstáculo à criaçãode um experimentalismo democrático amplo que desejamos no hemisfério ocidental”.