Arrozeiros de Roraima ignoram risco de despejo e fazem previsão de safra recorde

09/12/2008 - 19h40

Marco Antônio Soalheiro
Enviado Especial
Boa Vista - Sem nenhuma garantia dequanto tempo poderão permanecer em parte da Terra IndígenaRaposa Serra do Sol, em Roraima, produtores de arroz do estadogarantem estar preparados para baterem recordes de produçãoem 2009. O risco de despejo apartir do julgamento da constitucionalidade da demarcaçãoda reserva em faixa contínua – que será retomadoamanhã (10) no Supremo Tribunal Federal (STF) - e nem mesmo acrise financeira internacional comprometem a meta, segundo eles, queprevêem colher cerca de 3,5 milhões de sacas do grão.“Hoje produzimosem torno de 160 mil toneladas de arroz por ano em Roraima e 60% dessaprodução ficam dentro da Raposa Serra do Sol. As áreasem que nós trabalhamos nunca foram indígenas”,argumentou o presidente da Associação dos Arrozeiros deRoraima, Nelson Itikawa, em entrevista concedida antes de embarcarpara Brasília. “A crise nãoafetou, só dificultou , porque os insumos sãoimportados e houve um aumento de até 120% nos últimos12 meses. Mas a nossa meta é sempre aumentar a produção”,acrescentou. A produçãode arroz representa atualmente cerca de 6% do Produto Interno Bruto(PIB) de Roraima e gera diretamente mais de 2 mil empregos, segundo ogoverno estadual. Itikawa sucedeu napresidência da associação o prefeito dePacaraima, Paulo César Quartiero, a quem o governador Joséde Anchieta Júnior responsabilizou pelo clima de animosidadeentre índios e produtores. O “Japonês”,como é conhecido em Boa Vista, se difere do antecessor pelotemperamento mais calmo, pelo menos em declaraçõespúblicas. Mas ele evita condenar o colega de atividade. “Só sabe osapato que aperta quem o calça. Se ele [Quartieiro] temcentenas de indígenas querendo invadir sua área, temque defender sua vida e o futuro dos seus filhos. Somos companheirosde trabalho e não podemos criticar a atitude dele”, disseItikawa. O líder dos arrozeiros embarcou para capital federalconfiante que os demais ministros do STF não sigam o voto dorelator, ministro Carlos Ayres Britto, que classificou a áreade 1,7 milhão hectares, homologada pelo governo federal emabril de 2005, como de uso exclusivo indígena.“Esperamos que ovoto do segundo ministro seja de uma forma que atenda a necessidadede ambas as partes. Não precisamos brigar por terra aqui.Temos o menor índice demográfico do país, mas asongs estrangeiras interferem no processo. Existe convivênciapacífica secular entre índios e não -índios”,afirmou.Itikawa demonstraaparentemente mais disposição para aceitar o resultadodo julgamento do que o colega Quartieiro. Mas condiciona a saídada reserva ao cumprimento pelo governo federal das medidas exigidaspara a desapropriação.“O decreto dedemarcação fala em indenização justa eprévia, além de realocação em áreacondizente com a atividade. Se arrumarem essa área eindenizarem em dinheiro, temos que cumprir, porque a Justiçaassim determina”, disse.