Internos do Caje agitam "bandeiras brancas", depois de uma semana tumultuada

06/09/2008 - 14h33

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As poucas mulheres que visitaram os filhos no Centro de Atendimento JuvenilEspecializado (Caje) em Brasília, hoje (6), viram, ao deixar o prédio, o tremular de camisas brancas através dasgrades da ala 7, uma das mais problemáticas da unidade deinternação de menores infratores. “Eles estãopedindo paz”, destacou uma das mães. Pelos relatos de quementrou no Caje na manhã de hoje, paz foi tudo o que não houve na unidade nesta semana  tumultuada. “Hámuitos meninos na ala 7 machucados. Tem menino com dedo quebrado emuitos com marcas no rosto”, disse um dos visitantes. Integrantes da PastoralCarcerária evitaram confirmar se há menores com sinaisde tortura, mas manifestaram preocupação com o queviram durante a visita. “É necessárioque as autoridades responsáveis pela proteção domenor, que promotores da Vara de Infância e da Juventude edefensores de Direitos Humanos entrem na unidade para verificar asituação dos internos. O Caje passou por uma semanatumultuada e até o momento ninguém veio conversar comos menores. É preciso que eles avaliem se a situaçãoatual é normal”, disse um dos agentes da PastoralCarcerária ao sair do Caje.A mãe de um dosinternos da ala 9  não conseguiu entregar ao filho os biscoitos que havia comprado. Segundo ela, alguns meninos estão de castigo e porisso têm autorização para receber as compras. Além disso, ela disse que também foi castigada, pois ficou apenasdois minutos perto do filho.O risco do clima detensão contaminar outras áreas da unidade égrande, de acordo com as informações passadas pela irmãde um interno da ala 1, considerada a mais calma do presídio.Ela informou que ali houve até queima de colchões no pátio. “Eles queimaram colchões em apoio aos colegas dasoutras alas”, disse.De acordo com o aPastoral Carcerária, os internos estão em pânicodepois da morte de um adolescente de 16 anos, ocorrida na últimaterça-feira. O fato gerou forte desequilíbrio emocionalnos internos, o que torna mais necessária a presença no local das autoridades e dos organismos responsáveis pelaproteção do menor para constatar o clima no ambiente. Na última terça-feira, A.L.A.S, de 16 anos, foienforcado com uma toalha, supostamente por três dos quatro colegas de quarto no Caje. Eleaguardava o julgamento da Vara da Infância e da Juventude (VIJ)e havia dito à avó, a dona-de-casa Maria Dornelas, 52 anos,que já tinha sido ameaçado por outros internos.Na manhã dequinta-feira, teria ocorrido uma briga na ala 7, que a abriga 32menores infratores. Eles chegaram a render um dos colegas dequarto e usavam uma faca improvisada. A polícia teve que intervirpara controlar o tumulto. Também na quinta-feria, no inícioda tarde, houve confusão na ala feminina provisória,que acomoda 21 meninas.