Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O Brasil vive hoje um ciclo de expansão decrédito “salutar”, avaliou hoje (25) o superintendente deEconomia da Federação Brasileira de Bancos (Febraban),Nicola Tingas, ao comentar a Nota Política Monetária deOperações de Crédito do Banco Central (BC).O BC apontou, na nota, que houve crescimento novolume de crédito ofertado pelos bancos, atingindo o valormais alto na série histórica.“Estamos vivendo um ciclo de expansão docrédito que está se mostrando coerente com o ciclo daeconomia, principalmente nessa fase salutar, porque hoje ocrescimento do crédito é muito mais ligado a empresasonde há maior capital de giro sendo utilizado, uma maioroferta sendo feita e um aumento da produtividade”, disse.De acordo com o superintendente da Febraban, aestabilidade no emprego e o crescimento da renda do brasileirofizeram crescer a necessidade de consumo, que deve ser refreada.“Passamos a consumir muito rápido. O crédito estácrescendo a termos nominais. Isso significa que estamos demandandoprodutos e serviços numa velocidade fantástica. Mas aoferta não é tão rápida quanto oconsumo”, observou.Tingas disse ainda que o consumo precisa continuarcrescendo num ritmo mais moderado para que o investimento seconsolide e a oferta se equipar à demanda. Segundo ele, um dos efeitos positivos da obtençãode crédito na economia brasileira é a capacidade demelhorar o padrão de vida do tomador.“Na medida em que você tem crédito,você consegue consumir aquilo que seria sua renda futura. Vocêantecipa a renda e consegue melhorar seu padrão de vida e seubem-estar desde já.” Ele lembrou, no entanto, que épreciso levar em conta o compromisso de pagamento. “Evidentemente,tomar crédito também significa um compromisso depagamento, portanto, devemos saber tomar crédito de formaequilibrada e racional e não nos endividarmos ao extremo”,observou.Uma das formas de crédito que ele vêcom ressalvas é o cheque especial que, segundo ele, sódeveria ser usado como fonte de renda em caso de emergência. “Chequeespecial é para curtíssimo prazo, para situaçõesespeciais”, afirmou. O BC registrou que, em julho, os juros do cheque especial foram os mais altos desde agosto de 2003. Para o Instituto de Estudos para o DesenvolvimentoIndustrial (Iedi), o dado que mais chamou a atenção nanota do BC foi o aumento das taxas de juros dos empréstimos. “Ao contrário do observado em janeiro –quando a elevação do custo do crédito foiatribuída ao aumento das alíquotas dos impostos – aalta em julho decorreu da elevação da meta da taxaSelic, que contaminou o custo de captação dos bancos e,sobretudo, do aumento do spread bancário, o queconstitui sintoma de uma maior aversão ao risco dos bancos, emespecial no segmento de pessoa física, diante do crescimentoexcessivo do crédito, há vários meses”, disseo instituto, em nota.De acordo com o Iedi, o que gera preocupação,no que diz respeito aos números divulgados pelo BC, é atendência de estabilização nos prazos e apersistência de alta do custo dos empréstimos. Se estesfatos ocorrerem, na avaliação do instituto, “a altaresultante no valor das prestações pode desestimular asoperações de crédito nos próximos meses”.