Em Roraima, Quartiero aguarda decisão do STF e diz que PF é “Gestapo tupiniquim”

24/08/2008 - 10h25

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A poucos diasdo julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) de açõesque contestam a demarcação em área contínuada Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o prefeitode Pacaraima e produtor de arroz Paulo César Quartierodemonstra confiança na permanência dos não-índiosna reserva. Mesmo depois de duas prisões, ele continua a criticar inquéritos em curso na Superintendência da Polícia Federal em Boa Vista, queapuram o seu envolvimento em um atentado contra postopolicial e no episódio de maio em que índios forambaleados dentro de sua propriedade.“Eu me sintoorgulhoso de estar sendo processado e investigado pela Gestapo[polícia secreta alemã ligada ao nazismo] tupiniquimque é a Polícia Federal." "Junto com o Ministérioda Justiça, ela [Polícia Federal] está vendida ao interesse internacionaleeu diria que atenta contra os interesses diretos da naçãobrasileira”, afirmou Quartiero, líder do movimento de resistência à saída dos não-índios, em entrevista à RádioNacional da Amazônia e à Agência Brasil. “O diaque eu receber uma medalha desse povo, certamente me considerarei umcriminoso. Mas enquanto for processado é sinal de que estou nocaminho certo. A história vai mostrar quem estávendendo o Brasil e quem está defendendo a nação”,acrescentou.Procurada para responder às críticas de Quartiero, aSuperintendência da PF informou que não irá sepronunciar sobre assuntos relacionados à reserva até o próximo dia 27, data do julgamento no STF.Quartiero disse que não pretende vir a Brasília. Alega que precisa defender sua propriedade dos índios quequerem a demarcação contínua. Entretanto, osarrozeiros de Roraima estarão representados pelo advogado do grupo, o ex-ministro do STF IlmarGalvão.“Não é por ser ex-ministro, mas pela bagagem,experiência e sentimento patriótico que ele vai nosajudar. Não estamos dizendo que os índios nãodevem ter terra. Eles já têm espaço mais do quesuficiente. Estamos pedindo uma área ridícula, quepermita a sobrevivência dos não-índios e dosmunicípios”, disse o arrozeiro.ATerra Indígena Raposa Serra do Sol, de acordo com a demarcação concluída pelo governo federal, abrange uma área de 1,7 milhão de hectares. Osarrozeiros ocupam cerca de 1% dessa área e há umadivisão das comunidades indígenas entre simpatizantes econtrárias aos produtores. A produção de arrozcorresponde a 6% do Produto Interno Bruto (PIB) deRoraima, segundo o governo do estado, e gera pelo menos 2 milempregos diretos. Mas os produtores já receberam multasmilionárias do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente eRecursos Naturais Renováveis (Ibama) por degradaçãoambiental. Eles não aceitam deixar a reserva e alegam que as indenizações oferecidas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) são irrisórias. Do ponto de vistajurídico, o principal argumento dos agricultoresé a existência de supostos vícios no laudoantropológico que embasou a demarcação. “Olaudo é falso. É uma fraude impulsionada por interessesestrangeiros que compram consciências de brasileiros em favorde uma aberração jurídica, que vai inviabilizaro estado de Roraima. Se o Supremo manter a demarcaçãocontínua, o meu município [Pacaraima] serápraticamente extinto”, criticou Quartiero.