Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)vai propor ao governo três medidas para a valorização do real frente ao dólar.A informação foi dada hoje (8) pelo diretor-geral do Departamento de RelaçõesInternacionais e Comércio Exterior da entidade, Roberto Giannetti da Fonseca,em entrevista coletiva concedida na sede da Fiesp, em São Paulo.Estudos da federação apresentados por Giannetti apontam que o real foi a moeda que mais sevalorizou em relação ao dólar nos últimos cinco anos: 46%, deagosto de 2003 a agosto de 2008, contra 22,7% da média mundial. A lira turca, por exemplo, teve valorização de 12% no mesmo período; já o yuan, daChina, valorizou-se 17%.Segundo Giannetti, esse comportamento tem reduzido a competitividadeda indústria nacional no exterior e o saldo da balança comercial brasileira,além causar um desequilíbrio das contas externas do país. Se nada for feito, naopinião dele, a economia brasileira entrará em um colapso semelhante aosocorridos em anos anteriores. “Essa situação não é suportável”, disseGiannetti. “Temos que fazer algo ou então, em dois anos, vamos ver o mesmofilme de 1986, 1989, 2002 e 2004.”De acordo com a Fiesp, o ideal é o dólar valesse oequivalente a R$ 2,10. Para Giannetti, medidas que aumentem a demanda pela moeda norte-americana no Brasil fariam com que este patamar fosse alcançado em período deseis meses a um ano. “Restringir a entrada de dólar não é o caminho adequado. Temos que gerar mais demanda de real para dólar.”Ele disse que uma das medidas que serão propostas é acriação de uma nova linha de financiamento para empresas exportadoras.Atualmente, essas empresas utilizam o chamado Adiantamento de Contrato deCâmbio (ACC) para financiar sua produção. No ACC, osfinanciadores captam recursos no exterior, em dólar, para emprestar as empresas brasileiras. Isso aumenta a quantidade da moeda,reduzindo seu valor aqui.A idéia da Fiesp é que o governo crie ou incentive a criaçãode uma espécie de ACC onde os financiadores emprestem os recursos, com a mesmataxa de juros, porém captados de fundos em real. Assim, não precisariam trazermais dólares ao país.A segunda proposta da Fiesp é a permissão para a abertura decontas bancárias em dólar no Brasil. A possibilidade valeria somente paraempresas Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) e evitaria que essascompanhias vendessem todo o dólar recebido para que pudessem aplicarseu capital em um banco nacional. Isso colaboraria também para que menosdólares circulassem no mercado nacional.A terceira medida é a simplificação do regulamento que tratada dispensa de cobertura cambial. Essa dispensa permite que empresas querealizam transações no exterior mantenham o dólar fora do país para facilitarsuas transações. Contudo, o regulamento para que isso seja feito é tãocomplicado, disse Giannetti, que, em alguns casos, compensa mais a companhiatrazer os dólares para o Brasil e arcar com as despesas do que manter umaequipe de funcionários somente para resolver os tramites burocráticos exigidos para mantero dinheiro fora do país.Segundo ele, se o regulamento fosse simplificado, menos dólaresentrariam no Brasil e o valor do real tenderia a aumentar.De acordo com Giannetti, reuniões de dirigentes daFiesp com representantes do Ministério da Fazenda e do Banco Central devemocorrer dentro de duas semanas para a discussão das propostas.