Lourenço Canuto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - "O mercado agrícola brasileiro deixará deexportar R$ 5 bilhões anualmente, em consequência da ausência deacordos comerciais na Rodada Doha, realizada no âmbito daOrganização Mundial do Comércio (OMC), em Bruxelas. Outra conseqüência séria deverá acontecer quando um determinadoproduto ficar com preço muito baixo no mercado internacional e osEstados Unidos resolverem reforçar o protecionismo em favor de seusprodutores". A avaliação foi feita hoje (30) pelo assessor técnico da ComissãoNacional de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuáriado Brasil (CNA), Matheus Zanella, em entrevista ao programa RevistaBrasil, da Rádio Nacional.Zanella avaliou que a atual crise mundial na área doabastecimento de produtos alimentícios tinha relação direta com asdiscussões da Rodada. Ele avaliou que o fracasso nas negociações de Doha "deverá desencadear um impulso deacordos bilaterais em todo o mundo, e o Brasil deverá aderir a essaprática. A posição irredutível dos Estados Unidos e dos países europeus em reduzir os subsídios internos aos agricultores foilamentável", disse Zanella, porque a Rodada Doha "era a únicaplataforma internacional para tratar do assunto".O representante da CNA defendeu que "o Brasil deve pensar em obterganhos a partir de cuidados mais agressivos com a política sanitária efitossanitária de seus produtos agropecuários e continuar aumentando apromoção internacional das coisas que exporta, pois não temoscondições de competir com o Tesouro americano, que gasta muitos bilhõesde dólares com seus produtores". O agricultor brasileiro temmentalidade competitiva, segundo Zenalla e, por isso, nem mesmo precisadesse tipo de ajuda. "A gente ganharia mais com o investimento emsanidade animal e na promoção comercial", disse.A volta das negociações poderá acontecer, segundoele, "quem sabe daqui a alguns anos, quando a poeira baixar, e o novopresidente dos Estados Unidos verificar que não pode jogar fora umesforço que vinha acontecendo há sete anos, na Rodada Doha, em tornoda liberalização do comércio mundial".Para o assessor da CNA "o Brasil se posicionoumuito bem, afastando-se até mesmo de aliados para defender seusinteresses, mas agindo com flexibilidade". Zanella prevê que o País terádificuldade em negociações com a Argentina, quando for tentar acordobilateral, porque "eles são muito relutantes em promover aberturas naárea industrial porque sempre tentam através dela obter ganhos na áreado comércio agrícola". Tudo é agravado, segundo Zanella, pela criseinterna que o país enfrenta, com a governabilidade da nova presidentedo país, Cristina Kirchner. Zanella concluiu destacando que "osargentinos foram a Genebra com a intenção de atrapalhar" e essadisposição deles pode dificultar acordos com o Brasil.