Gil diz que não negligenciou ministério embora admita que se dedicou mais à carreira

30/07/2008 - 20h42

Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Embora reconheçaque, no segundo mandato do governo Lula, tenha dedicado mais tempo à sua carreiraartística que ao papel de ministro da Cultura, Gilberto Gilnão admitiu ter negligenciado a pasta, como afirmamcríticos.“Não meincomodam as críticas porque não me sintoresponsabilizado por nenhuma atitude realmente negativa em relaçãoa isso”, disse Gil, ao anunciar sua saída. “Emboratenha que reconhecer que a balança tendia mais para oincremento da atividade [artística]”, completou.Dedicar mais tempo à carreira foi a justificativa de Gil para deixar o comando do ministério,depois de cinco anos e meio no governo do presidente Lula. Os dois reuniram-se hoje (30) à tarde para a despedida.Segundo o ex-ministro, a agendade shows e outros compromissos artísticos aumentaram nosúltimos dois anos, dificultando a conciliaçãocom as atividades do ministério. Essa foi a terceira vez queele pediu a Lula para deixar o governo. “Encontrei opresidente, pela primeira vez, sensível a isso, maistranqüilizado com relação ao ministério emsi e à própria transição”, disse. “Opresidente, finalmente, entendeu que assim é e me liberou”,acrescentou.Gil disse que o primeiro pedido para deixar o cargo foi feito em 2006 e o segundo,no final do ano passado. O cantor afirmou que acabou permanecendo mais tempo, a pedido de Lula. Ele disse ainda quedeixa o ministério com sentimento de dever cumprido, maslamentou não ter conseguido mais recursos para a pasta. “Agente poderia ter chegado a um orçamento mais generoso. Asdificuldades todas das contas governamentais, o superávit,essas coisas todas conhecidas de todo mundo, fizeram com que nãoatingíssemos a meta de 1% [do orçamento] desejado por nós”,reclamou.Gil serásubstituído interinamente por Juca Ferreira, atualsecretário-executivo. Segundo ele, depois que o presidente Lula voltar desua viagem a China, quando irá participar da abertura dasOlimpíadas de Pequim, Ferreira deve serefetivado no cargo. Conforme Gil, Lula e o secretário devem sereunir antes da viagem. Para Gil, a músicaque mais representa sua gestão é Refazenda, composiçãoque gravou, em 1975, ao voltar ao Brasil depois do exílio emLondres, por causa da ditadura militar. “A música queescolheria é Refazenda que, por caso, se refere ao PlanaltoCentral e às pragas planaltinas. O governo do presidente Lulasignifica uma refazenda extraordinária no país”,respondeu. “Amanhã serátomate, anoitecerá mamão”, citou o trecho da letra ebrincou que estaria até disposto a ceder a música parao governo Lula. “Refazenda é uma música que eucederia como jingle”, disse bem-humorado.Antes filiado ao PartidoVerde (PV), Gil admitiu ter saído do partido. “Não gostaria deter ligações partidárias”, explicou. Questionado seplaneja candidatar-se a algum cargo público no futuro, oministro respondeu: “Nem pensar”.No anúncio de sua saída, o cantor estava acompanhadoda esposa Flora Gil. Ao falar sobre os próximos projetos forado ministério, ele disse que lançará um disco e asegunda fase de um projeto chamado Banda Larga, “que englobaresponsabilidades de artista e cidadão, com relaçãoaos avanços e à maneira como a sociedade tem que encarar essesavanços”.