Com fracasso da Rodada Doha, Brasil deve buscar acordos via Mercosul, diz professor

30/07/2008 - 18h30

Lourenço Canuto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Depois do fracasso da Rodada Doha, que se encerrou hoje (30/7) em Genebra, na Suíça, sem qualquer avanço relevante na direção da liberalização do comércio dos produtos agrícolas no mercado internacional, o próximo passo para o Brasil é tentar acordos por intermédio do Mercosul. A avaliação é do professor Ricardo Antônio Silva Seitenfus, que é membro do comitê jurídico da Organização dos Estados Americanos (OEA) e é diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (RS).A receita agora, segundo ele, é o Brasil fazer acordos regionais por meio do bloco do Cone Sul. "Com muita paciência, pois mesmo no âmbito do Mercosul o que se viu, em Genebra, foram posições não confluentes". De acordo com ele, o Brasil fez grandes esforços, "até correndo riscos políticos durante sua participação nas discussões na Organização Mundial do Comércio (OMC)"."O pragmatismo sempre foi marca registrada dos governos brasileiros na defesa dos seus interesses comerciais", diz o professor, ao considerar falsa a idéia de que o país tem sua política externa voltada apenas para o sul. O representante da OEA diz que a OMC, que hoje é integrada por 153 países, cresceu muito desde a extinção do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), que exercia papel semelhante no passado. Por isso, existe muita disparidade de interesses entre os países membros, em vista da nova realidade mundial.A questão dos subsídios agrícolas praticados internamente pelos Estados Unidos e pela União Européia, lembrou o professor gaúcho, foi o que mais dificultou que a Rodada de Doha tomasse uma decisão favorável aos países em desenvolvimento. "O subsídio desses países aos seus produtores chega até a inviabilizar a agricultura interna de muitas nações, como é o caso do Haiti, que deixou de produzir arroz e sempre enfrenta crise interna de abastecimento quando o preço do produto sobe muito no mercado externo."A criação do G-20, segundo Seitenfus, ocorreu dentro de uma estratégia comercial e quando esses países não têm seus interesses atendidos não se chega a nenhum acordo, como aconteceu em Genebra. Para ele, a reunião de Doha "seria o Canto do Cisne, porque as perspectivas a curto prazo agora são muito complicadas. Eu diria até nulas, no sentido de uma retomada de outra reunião, principalmente por causa do calendário eleitoral de países como os Estados Unidos, que têm eleições marcadas para este ano, e a Índia, para 2009".Seitenfus considera que, em relação aos Estados Unidos, "se não foi possível conseguir uma negociação dentro do governo do Partido Republicano, que está no poder agora, a provável vitória de um candidato democrata à presidência dos EUA vai dificultar mais ainda um futuro acordo pela liberalização do comércio internacional". Ele diz que, na verdade, não acredita que a liberalização ainda venha a ser efetivada e culpa a França por ter dificultado as negociações, cujo presidente representa de forma rotativa, no momento, o bloco comercial europeu. "A participação da França foi desastrosa, pois, em vez de falar pelos demais países europeus, assumiu a defesa do interesse interno, prejudicando todo o bloco".