Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Nestasegunda parte da entrevista, o diretor do Departamento de Comunidadesdo Brasil no Exterior, do Ministério das RelaçõesExteriores, o ministro Eduardo Gradilone, comenta as tendênciasdo fluxo de migração dos brasileiros para o exterior. Segundo ele, a procura pela Europa tem crescido. Asituação da comunidade brasileira no exterior éo tema do evento que será realizado, a partir de amanhã(17), no Rio de Janeiro. A 1ª Conferência sobre asComunidades Brasileiras no Exterior - “Brasileiros no Mundo” éorganizada pelo MRE. AgênciaBrasil: Existe alguma observação que se faça emrelação às tendências, algum paísonde esteja diminuindo a migração e outro onde estejaaumentando?EduardoGradilone: Pelo volume de trabalho dos nossos consulados, a gente tema impressão de que está havendo um aumento da presençabrasileira na Europa e uma estabilização nos EstadosUnidos. Pelas dificuldades para entrar nos Estados Unidos, aeconomia, a taxa de câmbio... O brasileiro que ganhava US$ 1mil, agora troca isso por muito menos reais e indo para a Europa eletem mais vantagens. Não há dados. Os trabalhos queestão sendo apresentados nesse seminário mostram todasa dificuldade de se mensurar isso. ABr: E se observa que as comunidades tendem a se unir?Gradilone: Esse seminário vai ser muito bom pelo seguinte:desenvolver as lideranças, as entidades de apoio. Na verdade,a gente está vendo que há muito mais redes de apoio doque a gente imaginava, mas eu acho que falta muito. A gente tem quedesenvolver um pouco mais, estimular a criação degrupos para que eles mesmo possam se entrosar, procurar soluçõespara os seus problemas. Há projetos de redes de brasileiros enós gostaríamos de criar uma rede de redes. ABr: O senhor vai ser um dos que deve apresentar um trabalho naconferência, sobre uma proposta de uma políticagovernamental para emigrantes brasileiros. O senhor poderia adiantarum pouco como vai ser essa proposta?Gradilone:Há vários modelos de como outros países tratamas suas diásporas. Há países que têmpolíticas muito dirigistas. Por exemplo, nas Filipinas, háprogramas para estimular o filipino a ir para o exterior, ocuparespaços no mercado de trabalho internacional. Inclusive temcurso, agência de recrutamento. O filipino não sai senão tiver o diploma de que fez aquilo, há toda umaestrutura governamental, tanto para a ida quanto depois, para captaros recursos. O México também tem um sistema próprio.A Austrália praticamente diz: ‘se você vai para oexterior, lembre-se de que você saiu da minha soberania, aAustrália não pode fazer muito em outros lugares’. Naverdade a Austrália não fica tão indiferente aosseus australianos, mas é um pouco assim que eles apresentam. Eo Brasil? O Brasil tem que ter uma política para ascomunidades. Esses 3 ou 4 milhões de pessoas, que a gentecalcula, justificam ter uma política? Essa política temque ser intrusiva, dirigista ou tem que ser mais moderada? Oseminário vai ser importante para avaliar isso. A proposta depolítica para as comunidades que pretendo apresentar éuma indicação: quais são as principaisnecessidades, as principais características dessa diáspora?Quais são as principais demandas? Nós temos que fazeruma política que procure atender essas necessidades. Nóssabemos que a legislação internacional relativa àmigração é insuficiente, então a nossapolítica pode ser no sentido de ter uma atuaçãomais ativa, principalmente em usar mais os direitos humanos emmatéria migratória e procurar nos fórunsinternacionais separar o que é migração, paraenaltecer os aspectos positivos da contribuição que eladá, e evitar que seja contaminada com agenda de segurança,de criminalidade, de terrorismo, que acabam misturando coisas que, aonosso ver, não devem ser misturadas. Achoque um elemento importante nessa política seria uma açãointegrada dos nossos ministérios. O Itamaraty écoordenador, porque nós temos as missões diplomáticas,os consulados, mas não podemos avançar em benefíciospara a comunidade sem a ajuda dos outros ministérios. Seria fundamental que todas as reivindicaçõesfossem agrupadas para verificarmos o que é possível ounão. Afinal, o Brasil tem todos os brasileiros com problemaspara serem resolvidos, os nossos brasileiros no exterior sãouma parcela da população, mas temos que atender todomundo.