Brasil poderá ter a segunda maior reserva de urânio do mundo, afirma presidente da Aben

19/06/2008 - 22h20

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A flexibilizaçãodo monopólio da atividade de exploração deurânio, em discussão no âmbito do governo federal,poderá dar ao Brasil a segunda maior reserva de urâniodo mundo - elevando de 300 mil para 800 mil toneladas o volume dominério cujas reservas são conhecidas no país.Poderá ainda contribuir de forma decisiva para que o Brasilpossa produzir internamente todo o urânio enriquecido a serutilizado em suas usinas. A afirmaçãofoi feita hoje (19) à Agência Brasil pelo presidente da AssociaçãoBrasileira de Energia Nuclear (Aben), Francisco Rondinelli, ao participar do simpósio anual da Seção Latino-Americana da American Nuclear Society (LAS/ANS),encerrado no Rio. Na avaliaçãodo presidente da Aben (instituição quereúne técnicos e pesquisadores do setor nuclear privadodo país), flexibilizar o monopólio é a alternativa mais viável à falta de recursopara que o país dê continuidade ao processo de enriquecimentodo urânio, cujo ciclo já domina em sua plenitude. “O Brasil temcompetência em todos os setores, detém o ciclo completodo enriquecimento, mas não gera o suficiente para atender asnecessidades de suas próprias usinas. Faltam recursos e, porisso mesmo, o país se vê na obrigação derealizar o enriquecimento no exterior. Já temos descoberto 310mil toneladas que dariam para fazer 25 usinas iguais a Angra 2, comperíodo de vida de 60 anos”, avaliou. Lembrando que há30 anos o país não realiza trabalhos de prospecção,Rondinelli defendeu uma decisão favorável àflexibilização do monopólio no país.“Não adiantanada ficar sentado em cima delas [das reservas] e nãoutilizá-las para nada. Há mais de 30 anos que nãose prospecta no país. O que o empresariado quer paradesenvolver a atividade são garantias de que poderáexportar parte do que prospectar.” O presidente da Abenexplicou que o ideal seria que o governo decidisse por um meiotermo entre o monopólio hoje existente e uma abertura total domercado. “Há algunssetores, como o de enriquecimento e fabricação decombustíveis, que devem ficar nas mãos do governo, mesmoporque a iniciativa privada não tem muito interesse eminvestir nessas áreas. Já na prospecção,há o interesse de vários parceiros nacionais einternacionais. Basta dizer que a Vale comprou uma mina de urâniona Austrália. Por que uma empresa brasileira pode explorarurânio na Austrália e não pode no Brasil?”,questionou. Ele defendeu “umaassociação entre o setor privado e a INB (IndústriasNucleares do Brasil), que ficaria com uma parcela a ser aplicada nociclo do combustível. “Não épara explorar e levar todo o urânio para o mercado externo. Umaparcela desse urânio seria exportada pela própria INB erevertida para o desenvolvimento e a implementação doprocesso de enriquecimento do urânio no próprio país”. Tendo como tema central  A Energia Nuclear, a Matriz Energética Brasileira e oMonopólio da Tecnologia - Retomada da Construçãode Usinas Nucleares na América Latina, o simpósiodiscutiu hoje, entre outros assuntos, exatamente AFlexibilização do Monopólio da TecnologiaNuclear no Brasil. O assunto entrou emdebate um dia após, no mesmo local, o secretário dePlanejamento e Desenvolvimento Energético doMinistério de Minas e Energia, Altino Ventura, ter anunciadoque a Usina Nuclear Angra 3 terá suas obras reiniciadasainda este ano e que o governo pretende construir até 2030outras quatro unidades no país, com potencial individual de 1mil megawatts (MW). Atualmente, umgrupo interministerial instituído pela Casa Civil analisa apossibilidade de abrir para o setor privado a atividade de exploraçãode urânio no país, informou o presidente da Empresa dePesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.A possibilidade daquebra do monopólio na exploração de urânio– hoje restrita à empresa Indústrias Nucleares doBrasil (INB), subordinada ao Ministério da Ciência eTecnologia – já vem também sendo mencionada peloministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Segundo ele, aintenção do governo é abrir o setor paraexploração da iniciativa privada, permitir a exportaçãodo combustível e até, “em determinado momento”, obeneficiamento, desde que sob controle do Estado.