Copom eleva taxa básica de juros para 12,25% ao ano

04/06/2008 - 19h31

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Pela segunda vez neste ano o Comitê de PolíticaMonetária (Copom) do Banco Central (BC) corrige a taxa básica de juros paracima, elevando-a de 11,75% para 12,25% ao ano, em decisão unânime e sem viés. A justificativa, de acordo com o colegiado de diretores do BC, é a necessidade deconter o aumento do consumo interno e segurar a inflação o mais próximopossível do centro da meta de 4,5% ao ano.Por enquanto, os analistas de mercado consultados semanalmente pelo BC, no Boletim Focus, estimam Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aoredor de 5,5% ao ano.Eles foram surpreeendidos, porém, com o anúncio hoje (4) de que ainflação de maio, na capital paulista, foi de 1,23%, nos cálculos daFundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe). Ficou acima, portanto,das apostas dos consultores econômicos, que esperavam Índice de Preçosao Consumidor (IPC) superior aos 0,54% de abril; mas não tanto. O aumento foipuxado principalmente pelos preços dos alimentos.Na verdade, “o mercado já havia precificado o aumento da taxaSelic”, de acordo com o professor de Economia da Universidade deBrasília (UnB), Roberto Piscitelli. Ele considera inútil, inclusive, aelevação da taxa básica de juros, em virtude de os aumentos de preçosverificados até agora serem “predominantemente decorrentes do que sepoderia caracterizar como choques de oferta”.Segundo Piscitelli, o Copom pode aumentar quanto queira a taxa de juros, enem por isso os fornecedores de trigo vão baixar as cotaçõesinternacionais; da mesma forma nossos exportadores de commodities(produtos com cotação internacional: agrícolas, minérios e petróleo)também continuarão alinhados aos preços externos, “em relação aos quaisnossa capacidade de influência é residual”. Exemplo disso, diz ele, é oque acontece na Argentina, onde a presidente Cristina Kirshner travadura queda-de-braço com os produtores agrícolas.Piscitelli salienta, ainda, que “o aumento nas previsões deinflação não nos deixou fora da meta e, sim, acima do centro da meta.Aliás, se o desvio desse alvo provoca tanta celeuma, não sei por queestabelecem margens de tolerância de 2% para cima ou para baixo”. O professor acrescenta também que o câmbio está a favor do Brasil e que “asestimativas de safra são mais do que satisfatórias”, não havendorazões para o aumento da taxa Selic.Ele lembra ainda que os setores da indústria que maiscrescem são os de bens de capital (máquinas e utensílios paramodernização do parque fabril), e isso significa, no seu entender, que“os empresários estão levando fé na continuidade do crescimento”. Por isso é que aumentam ou repõem a capacidade de produção de suas atividades, afirma.Dessa maneira, “é pouco provável que se criem novosgargalos”, além dos já conhecidos nas áreas de infra-estrutura, acrescenta. Nas circunstâncias atuais, ele acredita que um aumento de juros -com expectativa de continuidade do processo de "ajuste" - pode atéreforçar tendências altistas em certos setores, aumentar custos deprodução e provocar retração nos investimentos (com menos influênciasobre o consumo, que continua "ajustando-se" mediante alargamento deprazos). “É curioso”, diz Piscitelli, “pois com o grau de investimento,as percepções de risco deveriam ser mais diluídas e os custos decaptação reduzidos”.O professor ressalta que o aumento dos juros favorece,isto sim, o aumento do spread bancário (diferença entre o que o bancopaga ao depositante e o que cobra na concessão de empréstimo) eestimula a captação de mais capitais especulativos, provenientes doexterior, uma vez que aumentam os diferenciais entre as taxas internase externas de juros. Na sua concepção, isso fará o dólar "derreter"ainda mais, com prejuízos para as nossas balanças comercial, deserviços e de pagamentos em geral; e a dívida pública mobiliáriafederal interna continuará a subir, com encargos crescentes de juros,em virtude do maior comprometimento de receitas orçamentárias.