Para economista, país retoma "saudável hábito de pensar o setor elétrico"

14/03/2008 - 20h09

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Depois de passar toda adécada de 90 e o início dos anos 2000 com umplanejamento energético deficitário e praticamente inexistente, o Brasil finalmente retomou o saudável hábitode pensar o seu setor elétrico..A opinião édo economista Carlos Álvares da Silva Campos, especialista em energia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele, falhou o pensamento deque a “racionalidade” do setor privado brasileiro seriasuficiente para suprir as necessidades do país eminvestimentos no setor elétrico."Havia a idéia fixa de que nãoseria necessário o Estado planejar o setor elétrico,porque a racionalidade do setor privado faria essa alocaçãoadequada de recursos. Essa tese nãovingou: os investimentos privados ficaram muito aquém dasnecessidades que o país tinha e agora, principalmente com aEPE [Empresa de Pesquisa Energética], este planejamento foi retomado”, afirmou.O economista lembrou que ainda ocorrem "pequenos sustos" diante da possibilidade de racionamento, porque "pensar o suprimento energético no longo prazo é uma coisaainda relativamente recente – e no setor elétrico é sabido que os investimentos têm longo prazo de maturação, em sua maioria, por isso ainda não se tem um resultado concreto mais delineado".Ele destacou que "o caminho é planejar para dez, 15 e até 20 anos à frente" e que, com a aprovação da Medida Provisória 396, que dá maior poder de gestão à Eletrobrás, haverá mais capital para investimentos. "A medida deixará as empresas do grupo Eletrobrás menos dependentes dos interesses do setor privado e, com isso, muitos projetos poderão sair do papel, principalmente aqueles que têm pouca atratividadedo ponto de vista do capital investido”, afirmou.Para o especialista, a MP não significará a reestatização do setor elétrico, como defendem setores do setor privado: "Os investimentos públicos são extremamente importantespara um país ainda carente de investimentos como o Brasil. Os investimentos públicos, mesmo consorciados, serão sempre bem-vindos, porque propiciam a reduçãodessa deficiência na área de infra-estrutura”.Campos lembrou ainda o fim de uma exigência do Fundo Monetário Internacional (FMI), de que os investimentos no setor fossem contabilizados como despesas correntes. "Isso acabava impactando o déficit público, levava o governo a contingenciar os investimentos das estatais no setor elétrico, atrasando projetos e reduzindo a oferta de energia", comentou.