Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O governo “errou ofoco” ao adotar medidas preocupado apenas com a reduçãodo superávit comercial. E a queda da moeda americana ante aoeuro e ao iene tem como explicação o fato da taxa dejuros serem mais baixas nos Estados Unidos do que na Europa e noJapão. As conclusões são do professor deeconomia da Universidade de São Paulo, Fabio Kanczuk.De acordo com ele,os juros mais baixos nos Estados Unidos levam os investidores apreferir deixar o dinheiro onde rende mais. "Então, oinvestidor prefere colocar o dinheiro na Inglaterra, com juros de 5%,em vez de nos Estados Unidos, com juros 3%. Daí, sai dinheirodos Estados Unidos e o dólar perde o valor",afirmou.Entretanto, o professor considera que o processo dedepreciação da moeda norte-americana vai se inverter."Daqui a uns três meses, os bancos centrais vãobaixar juros. E daí o processo começa a se inverter",estimou.No caso de países asiáticos, comoChina, Malásia, Indonésia, Singapura, Taiwan, apolítica adotada foi de depreciação das moedasnacionais. "Não tem como deixar [a moeda]depreciada por muito tempo. Alguma hora as coisas voltam ao normal.Agora, aquelas moedas estão começando a se [valorizar],mas ainda têm um longo caminho para o dólar perderdelas".Para Kanczuk, no Brasil, a queda do dólar estárelacionada ao superávit comercial e não à taxade juros. Por isso, na sua opinião, o governo “errou o foco”ao adotar medidas preocupado apenas com a redução dosuperávit comercial (pelo fato da depreciação damoeda americana ter atingido as exportações). Ele explicou que nosúltimos meses a entrada de dólares no país porconta das exportações fez com que a moeda americana sedepreciasse. "O Brasil exporta muito mais do que importa e issofaz com que se tenha um fluxo maior de dólar no país eaí [a moeda norte-americana] começa a valermenos em relação ao real. O exportador tenta exportar,mas com o câmbio apreciado, o produto brasileiro lá forafica caro. Os custos de produzir são em real",disse..Segundo Kanczuk, outro motivo para a reduçãodo superávit comercial é o crescimento das importaçõesem ritmo maior que o das exportações. Para ele, o quetem puxado as importações é o aumento do consumoe não a compra de bens usados para melhorar a produçãono país.Com a redução do superávitcomercial observada recentemente, a entrada de dólares no paísdiminui e o câmbio "busca outro equilíbrio",analisa o professor. "Essa é a forma que tem quefuncionar mesmo. Não é aí que a políticaeconômica deve ser feita. Os juros é que devem serusados para conter a inflação e não ocâmbio".O professor lembrou que a inflaçãoglobal, citada na ata do Copom divulgada ontem (13) pelo BancoCentral, é gerada pela alta do preço das commodities(produtos agrícolas e semimanufaturados) e de energia. Para Kanczuk, a funçãodo Banco Central deve ser a de evitar que os preços deprodutos e serviços subam ao mesmo tempo. "Se o BancoCentral não é frouxo no sentido de deixar acomodar osjuros muito baixos, os preços têm que se equilibrar.Enquanto um preço está em alta, outro fica mais baixo".