Ana Luiza Zenker*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os prefeitos (cargo equivalente ao de governador) da chamada “meia lua ampliada”, que inclui os departamentos (estados) de Santa Cruz, Pando, Beni, Tarija e Cochabamba, solicitaram uma reunião de alto nível com o presidente da Bolívia, Evo Morales, sem a presença do vice Álvaro García Linera, para tomar decisões políticas e elaborar uma nova agenda no processo de diálogo. Para o governo, o pedido é uma “chantagem”.“Diálogo sim, mas entre as autoridades máximas [prefeitos e presidente]”, pediu ontem o porta-voz da Prefeitura de Cochabamba, Erick Fajardo. Ele afirmou que, por parte das prefeituras, há vontade de se chegar a um acordo, mas isso não se dará “com os radicais que rodeiam o mandatário”.De acordo com Fajardo, Morales está rodeado de “pessoas que não desejam um acordo” e não mostram a intenção de tratar dos temas que foram acordados em reuniões anteriores entre o governo e os prefeitos. “Há uma vontade de conslidar acordos, na medida em que o governo mantenha a postura do presidente de dar abertura à nova Constituição”, indicou o porta-voz.O ministro de Governo, Alfredo Rada, indicou que “já cheira a capricho a posição de que ou a reunião é feita [só] com o presidente ou não é feita”. “Isso já é chantagem”, disse Rada em declarações à imprensa em frente ao Palacio Quemado, sede do governo federal, em La Paz. No entanto, o ministro não descartou a possibilidade de nova reunião entre o governo e as prefeituras, mas a partir do que já foi alcançado pelas comissões política e econômica.O governo e as nove prefeituras da Bolívia iniciaram um processo de diálogo no dia 7 de janeiro, em busca de um grande acordo nacional, sugerido por Evo Morales. Três temas estão em debate: o projeto da nova Constituição Política do Estado, os estatutos de autonomia dos departamentos de Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija e a redistribuição dos recursos do Imposto Direto sobre Hidrocarbonetos (IDH), do qual uma porcentagem será destinada para o programa social Renda Dignidade.Segundo o governo boliviano, amanhã (8) será realizada uma nova reunião com as prefeituras que estiverem dispostas a chegar a acordos, para escutar propostas sustentáveis e, em troca, oferecer flexibilidade na medidas legais que permitam garantir o pagamento da Renda Dignidade.As prefeituras já expressaram sua rejeição ao diálogo, por considerá-lo inútil, uma vez que o governo iniciou o pagamento da Renda Dignidade no início de fevereiro, antes de chegar a algum acordo sobre a nova distribuição do IDH.