Para tio de vítima, acidente nas obras do futuro metrô de SP foi negligência

11/01/2008 - 16h13

Elaine Patrícia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Para Elenildo Adriano da Silva, tio de uma das vítimas do acidente ocorrido no metrô de São Paulo, o queaconteceu no dia 12 de janeiro do ano passado não pode ser chamado deacidente. “Não foi um acidente. Foi negligência eincompetência. O próprio encaminhamento dos laudos doIPT [Instituto de Pesquisas Tecnológicas] mostra que se poderia, em cinco minutos, evacuar a área.Foi negligência por parte do estado e do consórcio. Do estado, porque ele se ausentou da obrigatoriedade de fiscalizar umaobra que é dele. Ele tinha que exigir que essa obra fosseperfeita e que não ocorresse nem a oportunidade de ocorrer umacidente”, criticou.O sobrinho de Adriano, Wescley Adriano da Silva, 22 anos, trabalhava hácerca de seis meses como cobrador de ônibus da empresaTranscooper efoi uma das vítimas do acidente na linha 4 da futura Estação Pinheiros do metrô, em São Paulo.Por volta das 15 horas do dia 12 de janeiro de 2007, na Rua Capri, Wescley ocupava o seu lugar no microônibusque fazia a linha Casa Verde-Pinheiros quando uma cratera se abriu nocanteiro de obras da estação, “engolindo” a van emque se encontrava. Além dele, também morreram noacidente o motorista da van Reinaldo Aparecido Leite, os passageirosMárcio Alambert e Valéria Alves Marmit, o office boyCícero Augustino da Silva, o motorista de um caminhãoque também foi “engolido” pela cratera Francisco SabinoTorres e a aposentada Abigail de Azevedo.“Foi numasexta-feira e deixoua família toda em choque. A notícia de que omicroônibus tinha caído no buraco dava esperançade que fosse um acidente simples, que não houvesse vítimafatal. No desenrolar da noite a gente foi se inteirando dos fatos evendo a gravidade do problema”, contou o tio de Wescley, ementrevista à Agência Brasil.Assim que souberam do acidente, Elenildo, sua esposa, sua irmã (a mãe deWescley) e as duas irmãs do cobrador, Aline e Amanda, foramao local para ter notícias. No começoda noite, Elenildo conta que o Consórcio Via Amarela,responsável pelas obras do metrô, sustentava quenão havia vítimas no acidente, “até a hora emque o rapaz da Transcooper foi numa rede de televisão edivulgou que o satélite estava identificando que a van estavanaquela região e se encontrava ali soterrada”. O corpo dosobrinho foi identificado no dia 18 de janeiro.A morte de Wescleyafetou a vida de toda a família. Adriano lembra que, na última vez em que viu seu sobrinho, no Natal de2006, ele estava feliz com a proximidade do nascimento de seu primeirofilho, Kauã. Wescley e a esposa estavamjuntos há oito meses e moravam na casa da mãe dele,Elenilda Adriano da Silva. A esposa do rapaz teveproblemas com anorexia e a mãe resolveu mudar de cidade. “Paraa família, continua sendo doloroso. Ela [a mãe de Wescley] teve que ir embora de São Paulo – as circunstânciasa obrigaram a isso porque ela não tinha mais estruturaemocional para ficar aqui. Todas as pessoas que a conheciamperguntavam do filho dela e isso era diariamente . Isso ia minando asforças dela”, relatou.Kauã AdrianoFerreira da Silva nasceu 40 dias após o acidente, em 22 defevereiro. “[O nascimento] foi muito comovente e energizante para afamília. Apesar de nascer sem o pai presente, Kauã tevemuito carinho. E trouxe muito alento e conforto para a família”,diz. Kauã e a mãe continuam vivendoem São Paulo, no município de Taboão da Serra,numa casa, ainda não terminada, e comprada com o dinheiro queela recebeu da indenização do consórcio. Ofilho, Kauã, recebeu um plano de saúde válidoapenas para São Paulo. A mãe deWescley, por outro lado, não fez acordo com o consórcioe decidiu entrar na Justiça para receber a indenizaçãopela morte do filho. “A indenização foi um fato muitocomplicado. Eles [do consórcio] marcaram uma reunião 15dias após o ocorrido e trataram do assunto de uma forma muitochocante para a minha irmã”, afirmou. A primeira audiênciaestá prevista ainda para este mês. Elenildo tambémpretende entrar com um processo contra o estado de São Paulo assim que o últimolaudo sobre as causas do acidente for divulgado. “Precisamos que oestado dê uma resposta digna à sociedade e aosfamiliares”, diz.