Libertação de reféns pelas Farc não significa abertura de negociações, diz especialista

11/01/2008 - 19h12

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A libertação de duas reféns pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) ontem (10) pode garantir maior credibilidade internacional à guerrilha colombiana, mas não deixa claro se impulsionará as negociações de paz no país vizinho. A avaliação é do coordenador do Observatório Político Sul-Americano do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), Marcelo Coutinho.“Não está muito claro se este episódio pode, de fato, reabrir os canais de negociação ou se representa simplesmente mais um ato de marketing das Farc, visando a readquirir alguma credibilidade internacional perdida ao longo dos anos” afirmou hoje (11) o especialista em entrevista à Rádio Nacional.Coutinho acredita que é necessário aguardar os próximos acontecimentos para que se possam tirar conclusões maiores em relação a possíveis mudanças de cenário no território colombiano.Depois de seis anos em cativeiro, as ex-reféns Clara Rojas (ex-candidata à vice-presidência da Colômbia) e Consuelo González (ex-deputada) foram libertadas pelas Farc. Dois helicópteros da Cruz Vermelha foram até o local definido pelos guerrilheiros para fazer o resgate. A operação, comandada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, aconteceu após uma tentativa frustrada de resgate em 31 de dezembro.Coutinho explica que o conflito colombiano, que dura mais de quatro décadas, teve origem na Guerra Fria, quando uma série de transformações políticas levaram à polarização entre o comunismo e o socialismo. “Era um período em que a democracia ainda não estava estabilizada, antes dos golpes militares na América Latina que visaram justamente reprimir possíveis revoluções e movimentos de esquerda”, alegou.O especialista afirma que, no final dos anos 80 e início da década de 90, os conflitos existentes em todo o mundo praticamente desapareceram, com exceção da situação na Colômbia. A única guerrilha que persistiu, mesmo após a queda do muro de Berlim, foram as Farc.“Ao longo dos anos 90, elas [as Farc] passaram por um período de transformação profunda porque perderam sua capacidade de financiamento por outros governos socialistas e se aproximaram do narcotráfico. Por isso, hoje as Farc são chamadas cada vez menos de grupo guerrilheiro e cada vez mais de grupo narcoguerrilheiro”, explicou.Coutinho lembra que o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, tem uma política de segurança muito próxima à política norte-americana. Ele acredita que a possibilidade efetiva de diálogo por parte do governo colombiano com as Farc é pequena. “Para os grupos guerrilheiros, os Estados Unidos não têm qualquer credibilidade de negociação. Uribe, a esta altura, teria poucas condições de promover uma pacificação no país”, avalia.O especialista acredita que Uribe teve, em mãos, a oportunidade de tentar um processo de pacificação no país quando assumiu a presidência colombiana, mas que as tentativas foram todas frustradas. Para Coutinho, com a libertação das reféns em uma operação comandada por Chávez, Uribe pode passar a utilizar o presidente venezuelano como uma espécie de “canal alternativo de negociações” com a guerrilha das Farc.