“Fui obrigado a entrar em acordo com eles”, reclama vítima de acidente do metrô

11/01/2008 - 9h16

Elaine Patrícia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Antonio Manuel DiasTeixeira não estava em casa no dia em que uma cratera se abriuno canteiro de obras da Estação Pinheiros demetrô de são Paulo, mas sua mulher, um ano depois do acidente, ainda nãoconseguiu apagar as imagens daquele dia.No dia 12 de janeiro, Dirce Chiara, de 51 anos, estava em seu apartamento, na RuaGilberto Sabino, 170, a cerca de 20 metros do local de onde ocorreu atragédia. “Ela estava sozinha quando tudo começou aacontecer”, conta o marido Antonio Manuel Dias Teixeira, que era síndicodo prédio de oito apartamentos na época do acidente.“Quem deu o sinal doacontecimento para ela [Chiara] foi a minha cachorra. Minhacachorra [da raça] poodle, que não é de latir,começou a latir e correu para a porta do apartamento. Minhamulher entendeu que a cachorra estava avisando que havia alguém[estranho] no prédio e, com medo, trancou a segunda fechadura”,relembra Teixeira.O que aconteceu,momentos depois, nunca mais foi esquecido. “O prédio começoua tremer, os prédios vizinhos também começaram atremer e houve gritaria na rua. Foi quando ela [Chiara] entrou emtrauma e não conseguiu abrir a fechadura para sair do prédio”,conta. A mulher de Teixeira e outra moradora eram as únicaspessoas no prédio no momento do acidente e sónão morreram, disse o corretor, porque a grua,  equipamentoutilizado nas obras, não caiu. “Se a grua caísse, iria partir o prédio em dois”.Chiara conseguiu sair do prédio e foisocorrida por paramédicos, mas ainda hoje tem dificuldadespara dormir e precisa de tratamento  com psicólogos epsiquiatras e até de um cardiologista. Os gastos com essesprofissionais são pagos pelo marido e não peloconsórcio responsável pela obra.Teixeira, a mulher eos dois filhos, além de mais duas famílias tambématingidas pelo acidente, moraram em quartos de hotéis atéo dia 24 de dezembro do ano passado. “Fui obrigado a entrar emacordo com eles. Não quis brigar na Justiça. Preferiaceitar”, contou em entrevista à Agência Brasil. Umaúnica família, também moradora do mesmo prédioe que não gosta de dar entrevistas, ainda vive no hotel, mas aexpectativa é de que também feche acordo com oconsórcio ainda neste mês.“Ou você aceitaa proposta ou você vai para a Justiça. E você sabeque se for para a Justiça, é um processo [que demora]de cinco a dez anos. E eu tenho 54 anos. Não vou ficarbrigando na Justiça”.Ele disse que opagamento da indenização estava previsto para o dia 4de janeiro, mas somente uma parte do valor foi depositado na suaconta até o momento. Além do pagamento daindenização pela consórcio, Teixeira ainda esperaser indenizado pela prefeitura, que vai demolir oprédio. O acordo de indenizaçãodele com o consórcio foi fechado no dia 21 de dezembro e, trêsdias depois, Teixeira e a família foram obrigados a deixar oquarto do hotel onde viveram todo o ano. O corretor, que eraproprietário do imóvel onde morava, diz que vive hojeem um apartamento mobiliado, mas alugado. “Depois de 25 anos em queeu tinha aquele apartamento, comprado com muita luta e sem nuncapagar aluguel desde que me casei, hoje sou obrigado a pagar R$ 1,1mil por mês [de aluguel]”. Os apartamentos doprédio da Rua Gilberto Sabino, 170, foram todos condenados.“Se você entrar hoje nos apartamentos [verá que] elesestão intactos. Mas a terra cedeu e abalou a estrutura abaixodo prédio. Ele ficou interditado até o mês denovembro e a prefeitura entrou com pedido de desapropriaçãopara colocar o prédio no chão”, contou. No local,segundo ele, além da estação de trem [jáexistente] e da futura estação de metrô, serãotambém construídos uma praça e um terminal deônibus.“Foi um ano deinsegurança. Eu morava num apartamento de 88 metros quadradose, de repente, minha vida se resumiu a um apartamento de 23 metrosquadrados, com duas camas e um banheiro. Deitava e não sabiacomo seria o futuro. Será que vou poder comprar outroapartamento?”, pergunta.Teixeira diz nãoacreditar que os culpados pelo acidente vão ser punidos e quesó espera que sua esposa se recupere e que possa comprar umnovo apartamento para morar com a família.