Débora Xavier
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas é importante para o tratamento de doenças consideradas incuráveis ou altamente incapacitantes. A afirmação é unânime entre os cientistas e representantes da Academia Brasileira de Ciência (ABC), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Federação de Sociedades de Biologia Experimental que estiveram hoje (13) em Brasília. Os pesquisadores entregaram hoje (13) um documento para a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie, reafirmando a importância e a necessidade de trabalhos que envolvem células-tronco. No documento, as instituições de ensino e pesquisa ainda esclarecem que a divulgação recente de pesquisas de reprogramação de células humanas da pele “não dispensam” as pesquisas com células-tronco embrionárias. De acordo com a professora de Genética Humana da Universidade de São Paulo (USP), Mayana Zatz, nas pesquisas recentes é feito o retorno de células de pele ao estágio embrionário por meio da introdução de um vírus para ativação de genes específicos. “Esses genes, ao serem introduzidos novamente no organismo humano, apresentam risco muito grande de provocar tumores, pois o comportamento deles é incontrolável”, advertiu. Segundo ela já houve um caso de morte, em um paciente nos Estados Unidos que foi submetido ao tratamento com células reprogramadas.Os cientistas ressaltaram que apenas os embriões que seriam descartados pelas clínicas de fertilização são utilizados em pesquisas. Esses embriões, geralmente, já alcançaram o tempo limite de três anos para o implante no útero da mulher ou apresentaram alguma anomalia. Em qualquer um dos casos, os embriões somente são usados com o consentimento prévio dos progenitores. Para o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, a continuidade das pesquisas com células-tronco embrionárias significa ganho de qualidade de vida para muitos pacientes incapacitados.Ele citou como exemplo um estudo patrocinado pelo ministério sobre a efetividade das células-tronco autólogas, isto é, do próprio paciente, nos tratamentos de doenças do coração ou da doença de Chagas. “Caso se revelar efetivo como tratamento poderá substituir transplantes e outros tratamentos invasivos muito caros e de maior sofrimento para o paciente”. Há no Brasil, de acordo com Guimarães, cerca de 25 grupos que trabalham com pesquisas de células-tronco embrionária para tratamento de doenças como diabetes, afecções crônicas do sistema nervoso central, esclerose lateral e doença de Alzheimer. “Portanto, é muito mais que uma técnica, é um novo campo da medicina. É uma nova era que está se abrindo. Agora não tem milagres. Isso é um estudo que demanda muitas e muitas décadas. Tem muita coisa para se saber. É um investimento altamente promissor do ponto de vista de melhoria da saúde dos brasileiros. E é por isso que o ministério se interessa pelo assunto”, avaliou. O secretário acrescentou ainda que, as crenças religiosas contrárias às pesquisas com células-tronco embrionárias precisam de ser respeitadas, mas que tal postura não pode confundida com uma orientação de um estado que constitucionalmente é laico. Em abril, o STF realizou uma audiência pública para discutir o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas. A audiência surgiu a partir de uma açãodireta de inconstitucionalidade (Adin), do subprocurador-geral da República, Cláudio Fonteles, que é contrário aos estudos realizados com embriões.O ministro Carlos Ayres Britto é o relator da ação. O Supremo deve julgar a Adin em fevereiro de 2008.