Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O efeito das alterações climáticas provocadas pelo acúmulodos gases de efeito estufa na atmosferaexige uma resposta mundial imediata, sob pena de resultar futuramente emeventos catastróficos e em um amplo retrocesso nos índices de desenvolvimentohumano. Esta é a principalconclusão do relatório Combater a Mudançado Clima: Solidariedade Humana em um Mundo Dividido, lançado hoje (27) noBrasil pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Odocumento é traduzido em mais de 100 línguas e lançado anualmente nesses países, desde 1990. O coordenador do relatório, Kevin Watkins, diz que buscoutraduzir o significado dos aspectos científicos das mudanças climáticas para os mais pobres. “O cenário é que anossa geração já vai experimentar reversões em grande escala na saúde, naeducação e na pobreza. Para as futuras, há ameaça real de catástrofeecológica”. Segundo Watkins, o Brasil junto com os países africanos,entre os mais suscetíveis aos efeitos nocivos do descontrole ambiental.O especialista explica que as pessoas de menor poder econômicotendem a ser sempre as mais afetadas por tempestades violentas, secasprolongadas ou inundações. “Quando um evento desses atinge uma comunidade pobreela perde ativos produtivos, perde qualidade em alimentação, tira crianças daescola e corta gastos de saúde. O efeito cumulativo é o aumento da desnutriçãoe a pobreza de longo prazo. A solução preventiva proposta no relatório passa peladefinição de uma espécie de orçamento global do carbono, que defina limitespara o acréscimo de dióxido de carbono na atmosfera. A meta seria fazer com que o aumento médio de temperaturas até2.050 não ultrapasse 2°C. O documento estima que uma redução das emissões nacasa de 80% entre 1990 e 2050 representaria 50% de chance de atingir oideal. Para Watkins, a façanha só poderá ser alcançada com umamudança radical de postura dos países mais desenvolvidos, onde o nível deemissão é infinitamente superior ao registrado em nações pobres. “Quem cria oproblema não pode virar as costas para as vítimas”. Ele lembra que caberia aospaíses ricos uma posição de liderança, mas sem prescindir da colaboração daquelesem desenvolvimento. Entre as providências práticas sugeridas pelo PNUD, estão ataxação sobre da emissão de dióxido de carbono, regulamentação rígida paraveículos, edifícios e aparelhos eletrônicos, estímulo aos biocombustíveis etransferência de tecnologia entre os países. Watkins se diz otimista quanto à aceitação dochamamento: “A redução de emissões que propomos representa apenas 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB)global. É possível amenizar efeitos sem grandes perdas econômicas”.