Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O assessor especial da Presidência da República Marco Aurélio Garcia avaliou hoje (27) que os conflitos atuais na Bolívia e Venezuela, motivados por processos de reforma constitucional, são "próprios do processo democrático”. Ele afirmou que em regimes de exceção, não há manifestações de rua.Marco Aurélio lembrou que no Brasil, nos períodos “difíceis” [referência aos anos de ditadura], as manifestações de rua não existiam. “Então, é normal. Nós temos que entender que nesses países, o que está ocorrendo concretamente, entre outras coisas, é uma ampliação muito grande da cidadania. Setores que não participavam da vida política do país passaram a participar”.Garcia acrescentou que esse movimento não se faz sem conflitos. “Nós não estamos vivendo na Noruega, nem na Suécia, nem na Finlândia. Nós estamos vivendo na América Latina. Então, nós temos que entender esses processos, por mais que eles possam nos incomodar e por mais, evidentemente, que qualquer um de nós sinta quando há mortos, feridos etc.”O assessor afirmou que o governo brasileiro está acompanhando a situação da Bolívia “com discrição”, uma vez que se trata de um assunto interno daquele país. Admitiu, por outro lado, que o Brasil não ficará indiferente a esse tema, levando em conta os compromissos do país e de outras nações da região. “Nem interferência, nem indiferença”, apontou.Marco Aurélio lembrou que a Bolívia já enfrentou situações mais graves no passado, que foram resolvidas. “Vamos apostar no bom senso, vamos apostar numa boa solução”. Em relação às cláusulas nas constituições que ampliam a possibilidade de o governante permanecer no poder, Garcia respondeu: “Esse é um problema dos bolivianos e venezuelanos. Nós já temos sarna suficiente para nos coçarmos aqui”.Garcia disse que o problema na Bolívia não tem afetado as negociações brasileiras sobre o gás proveniente daquele país. “Até agora, não tem prejudicado”. Ele informou que a viagem do presidente Lula à Bolívia, programada para o próximo dia 12, permanece marcada. “Por que estaria adiada? Não... Até o dia 12, tem uma eternidade”.A Bolívia teve atos violentos no fim de semana, com mortes, quando a Assembléia Constituinte aprovou a nova Carta Magna. A Venezuela tem vivido confrontos de rua à medida em que se aproxima a data do plebiscito sobre a reforma constitucional, marcado para o próximo domingo (2). Nesta semana, o Equador deve dar início aos trabalhos de sua assembléia constituinte nesta semana.