Renato Brandão
Da Agência Brasil
São Paulo - A simpatia que o Brasil desperta tanto nos povos árabes quanto nos judeus é a maior contribuição no campo diplomático que o país pode apresentar hoje (27), na cidade de Annapolis, Estados Unidos, durante a Conferência de Paz do Oriente Médio.“Acho que o potencial do Brasil é imenso, já que oprincipal problema lá [no Oriente Médio] é uma certa falta de confiançada liderança dos dois lados. Na medida em que o Brasil sempre tevesimpatia pelos dois lados, Israel e Palestina, - o país sempre teve uma postura muitoclara de apoio aos dois Estados – acho que pode ter umaimportância diplomática decisiva”, avalia Moisés Storch, coordenador do grupo de amigos do movimento Amigos Brasileiros do Paz Agora, conhecido como Paz Agora Brasil.O encontro, organizado pelo governo do presidente norte-americano George W. Bush, reúne representantes de 50 países para discutir, dentre outras teses, a retomada do processo de paz entre israelenses e palestinos.Storch diz que o Brasil tem uma imagem “mais neutra, mais amiga” entre isralenses e palestinos, diferentemente dos Estados Unidos. “Por serem uma potência mais determinante [politicamente] na discussão, há uma certa oposição por parte das populações, principalmente dos palestinos, que vêem os Estados Unidos como uma potência imperialista”.Segundo ele, a conferência pode ter uma importância decisiva para o processo de paz, paralisado há sete anos, desde a última discussão entre as duas partes, em Camp David (EUA), ainda no governo de Bill Clinton (1993-2000).Storch diz que há uma fragilidade política do primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, e do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que gera ceticismo. O encontro, acrescentou, é uma oportunidade para ambos de firmar liderança. Para isso, avalia o ativista, eles terão de enfrentar os extremistas dos dois lados.“Em todo os avanços no processo de paz durante estas décadas, os extremistas aproveitaram estas ocasiões para radicalizar e tornar o processo impossível. E isso está acontecendo dos dois lados. A direita israelense está afiando suas garras, se opondo a qualquer tipo de concessão. Do lado palestino, o Hamas, que já controla toda a Faixa de Gaza, coloca em xeque qualquer concessão da parte da paz também. Então o grande problema do processo é fragilidade dos atuais líderes e o grande interesse das forças extremistas em atrapalhar o processo”, afirmou.Storch acredita que essa dificuldade poderá ser vencida “se houver uma grande vontade política do governo norte-americano, que até agora não mostrou muita disposição para interferir diretamente no progresso do processo”. “Agora, na medida em que o governo norte-americano realmente force as duas partes moderadas a ter condições de negociar concessões, a coisa vai para a frente. Senão, de qualquer maneira, para não dar um efeito bumerangue, para que não haja uma nova decepção para as populações, eu creio que as lideranças devam estar preparadas para fazer um mínimo de concessões para pelo menos colocar o processo de paz em marcha”. Para Storch, na situação política atual, grandes avanços não são factíveis, mas é essencial que haja pequenos avanços significativos, que mostrem às populações dos dois lados que há o que se ganhar em termos de paz. "Por exemplo, da parte de Israel é essencial que se tome uma atitude imediata para o congelamento da expansão dos assentamentos [judaicos na Cisjordânia]. Da mesma maneira, espera-se que haja uma atitude mais forte da ala Fatah na administração dos territórios palestinos. Isso pode ser feito mediante a imediata retirada gradual da força militar de Israel e a substituição por uma força policial palestina que demonstre ter condições de controlar os extremistas”.O Movimento Paz Agora defende o diálogo para a pacificação no Oriente Médio e tem núcleos de ativistas em países como Argentina, Canadá, França, Bélgica, Estados Unidos e Reino Unido. No Brasil, há núcleos do movimento em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre.