Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A greve de fome retomada hoje (27) pelo bispo da Diocese de Barra (BA), Dom Frei Luiz Flávio Cappio,em protesto contra a transposição do Rio São Francisco, é um gesto “heróico” de quem conhece osemi-árido e a situação precária do rio.Esta é avaliação do coordenador regionaldo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Luís Carlos Fontes.“Ele [o bispo] sabe que a transposição não vai resolver a questão dos pobres efere de morte o futuro do rio.” Para Fontes, a manifestação radical é provocada pela insensibilidade do governofederal em não rediscutir o projeto e pela inércia da Justiça em relação asupostos impedimentos legais. Ocoordenador alega que o governo desqualifica e nãoestabelece real diálogo com os integrantes do Comitê. “Não adianta usar o Exército paraintimidar o povo e impor a qualquer custo a transposição. Tem de sentar à mesa e dar voz às partes legítimas”,afirmou. O Comitê sustentaque o real objetivo do atual projeto de transposição é privilegiargrandes empresários de irrigação e a criação, no RioGrande do Norte e no Ceará, de camarões para exportação. Fontes defende que sejam priorizadas soluções deatendimento às vítimas mais pobres da seca. “Deveria começar pela distribuição da água estocada noCeará, no Rio Grande do Norte e na Paraíba, onde existem grandes açudes que nãosecam. Para quê levar água pra lá? Não faz sentido”, criticou Fontes. Eleargumentou ainda que a revitalização do rio São Francisco é urgente e não podeser usada como moeda de troca para o projeto de transposição. O coordenador do comitê diz que o início da obrasprovocou o acirramento de críticas e conflitos. Ele teme a extensão do novoprotesto do religioso. “Dom Flávio é determinado,consciente dos seus atos e está disposto a dar a vida pelo rio. Se acontecerum desfecho trágico, a responsabilidade é dos que optaram pela truculência e aimposição, em vez do diálogo”, alertou.