Renato Brandão
Da Agência Brasil
São Paulo - O Brasil pode ter uma participação significativa na Conferência de Paz do Oriente Médio, que se realiza hoje (27) nos Estados Unidos, por ser um exemplo de país onde a convivência entre árabes e judeus é pacífica. Mas é improvável que a diplomacia brasileira tenha papel ativo no campo político, na opinião do professor Francisco Carlos Teixeira, professor de história contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).A conferência, convocada pelo presidente norte-americano George W. Bush, será na cidade de Annapolis, nos Estados Unidos, para retomar o processo de negociações de paz entre israelenses e palestinos, paralisado há sete anos, desde a última discussão entre as duas partes, em Camp David (Estados Unidos).Representantes de 50 países participarão da Conferência de Paz em Annapolis – inclusive a delegação brasileira, que será chefiada pelo Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim.“A contribuição brasileira na Conferência de Annapolis deve ser, em primeiro lugar, mostrar as possibilidades de convivência pacífica entre árabes e judeus, tal como ocorre em nosso território”, disse Teixeira. Mas ele avalia como muito improvável que a diplomacia brasileira tenha papel ativo no campo político. “Talvez, no futuro, se Israel aceitar uma tropa de interposição ou manutenção de paz, o Brasil poderia ser chamado a fazer parte dessa tropa de paz”, opina.O professor da UFRJ avalia que o Brasil poderia dar importante contribuição técnica para ajudar a comunidade palestina. “Acima de tudo, a questão mais central seria a possibilidade de uma missão técnica, ajudando em questões como agricultura, saneamento básico, formação de professores, em uma área de ajuda técnica”, disse.Segundo Teixeira, a Conferência de Annapolis é a primeira iniciativa de grande porte do governo George W. Bush sobre o Oriente Médio. “Uma das características destes dois mandatos do governo Bush [2001-2009] – quase oito anos de administração – foi que os Estados Unidos se retiraram das negociações diretas sobre a paz no Oriente Médio, que era uma característica dos Estados Unidos desde o governo Nixon [Richard, 1969-1974]. Com isso, Bush acreditava que o Oriente Médio resolveria seu problema através de uma posição de força de Israel. É um reconhecimento tardio de que a diplomacia norte-americana, ao abandonar as negociações, cometeu um equívoco”.Mas, segundo o professor da UFRJ, não deve se esperar nenhum grande avanço nas negociações de paz entre israelenses e palestinos. “Eu não esperaria nenhum avanço. Não há nenhuma concordância em relação nem mesmo ao que documento poderá sair deste encontro. Neste sentido, eu acho que o único mérito – e já é um mérito significativo da reunião – é que as partes envolvidas tenham resolvido sentar-se para discutir. Mas as possibilidades de um acordo nesta reunião são pequenas”.Uma das dificuldades para um acordo éo fato de que, neste momento, os governos dos Estados Unidos, de Israel e a própria Autoridade Nacional Palestina (ANP) não reconhecem o Hamas como parte das negociações. Da mesma forma, também esse grupo não demonstra interesse em participar de negociações diretas com Israel.O Hamas é uma organização política palestina rival do grupo Fatah, liderado pelo presidente da ANP, Mahmoud Abbas. Em junho deste ano, o grupo tomou o controle da Faixa de Gaza e expulsou o governo da ANP, que controla a Cisjordânia.“Eu diria que se a Autoridade Palestina firmasse um acordo que fosse completo e que contemplasse a autonomia e a independência da Palestina, o retorno dos refugiados e o fim das colônias, isso legitimaria o acordo, porque o resultado seria muito bom e acabaria esvaziando a pauta do Hamas. Mas como este acordo não é possível, é muito mais provável que o Hamas possa dizer que mais uma vez se fez uma reunião sem nenhum resultado”, afirmou Teixeira.O professor da UFRJ acredita que os principais entraves nas negociações entre israelenses e palestinos – a volta dos exilados palestinos, expulsos ou fugidos após a eclosão do primeiro conflito árabe-israelense em 1948, a retirada das colônias judaicas da Cisjordânia, o estabelecimento de um estado palestino independente dentro das fronteiras anteriores à ocupação israelense de 1967 e a viabilidade econômica desse futuro estado - não devem ser negociados em Annapolis.“Acho que a possibilidade de Israel abrir mão do bairro árabe de Jerusalém [um dos quatro distritos da chamada Cidade Velha – o centro histórico da cidade, onde ficam os principais locais sagrados para cristãos, judeus e muçulmanos], para o bairro árabe se tornar a capital do estado palestino, é o único item que pode avançar nesse sentido. Os demais não creio que avancem”.