Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A questão dos rejeitos nucleares pareceestar equacionada no Brasil, pelo menos nos próximos 500 anos,avaliou hoje (21) o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiroda Silva. “Nós não estamos resolvendo oproblema. Resolver o problema significaria a gente resolver para aeternidade. Mas nós estamos postergando para 500, mil anos,com muita responsabilidade”, afirmou. Ele encerrou o 1ºWorkshop sobre Geração Nuclear e a Matriz EnergéticaBrasileira, promovido pela Associação Brasileira para oDesenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), no Rio.Silva disse que o volume de rejeito atômicoproduzido pelas usinas de Angra dos Reis. “Uma central com asusinas de Angra 1, 2 e 3 produz 28 metros cúbicos de rejeitode alta atividade. Cabe numa salinha pequena. A gente pode estocarpor 100 anos tranqüilamente”, argumentou. Ele disse que quemvai escolher o local de depósito dos rejeitos nucleares seráo próprio povo brasileiro.“A idéia é fazer uma célulae demonstrar que é seguro. Depois, nós vamos fazer umleilão, por meio do qual aquele município do paísque se voluntariar fica sendo o depósito e receberá umroyalty [pagamento] por isso.”A Eletronuclear, informou o presidente da estatal,vai colocar cada rejeito atômico ou elemento combustívelnuma ampola de aço inoxidável lacrada com solda, comvida útil superior a mil anos. “Ela fica isolada dasociedade”, afirmou o presidente da estatal, responsávelpela operação das usinas nucleares no país. Paraos críticos da energia nuclear, osrejeitos representam risco ambiental, além de a produçãoenergética ser cara.O presidente da Eletronuclear afirmou que osambientalistas, e a sociedade em geral, não vãoconviver nunca com rejeito nuclear, “que é produzido empequena quantidade e pode ser encapsulado”. Segundo Othon LuizPinheiro da Silva, a questão que mais preocupa a humanidade nessa área são os rejeitos de alta radioatividade, chamados pelaindústria de subprodutos. Esse tipo de rejeito éformado pelo elemento combustível já irradiado dentrodo reator.Silva lembrou que mesmo os críticos doprograma nuclear brasileiro convivem diariamente com todos os tiposde rejeitos das usinas térmicas movidas a gás, carvão,biomassa e óleo, além de produtos como o desinfetantecreolina, que “é um rejeito muito tóxico,cancerígeno”.O rejeito de baixa radioatividadediz respeito ao material utilizado pelos técnicos da usina,como sapatos, macacões e luvas, e tem tratamento similar aodos rejeitos hospitalares. O rejeito de média atividade sãoas resinas dos processos. Esses dois tipos de rejeitos têm comodestino galpões de concreto construídos dentro derochas, ao lado de cada usina.O assessor da presidência daEletronuclear Leonam dos Santos informou à AgênciaBrasil que a ação radioativa depende do tipo derejeito. Os de baixa e média atividade, por exemplo,permanecem radioativos por até 100 anos, disse. Já nosde alta atividade, a duração do poder radioativo émuito variada. “Pode ir de mais de 100 anos, como o césiopor exemplo, a 10 mil anos de meia-vida, caso do plutônio”,observou. Meia-vida é o tempo que o material leva para ter seuteor radioativo reduzido à metade.