Sobrecarga de trabalho impede emancipação da mulher no campo, afirma educadora

23/10/2007 - 14h20

Aline Beckstein
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A sobrecarga de trabalho no campo, onde a jornada feminina é de quatro a seis horas superior à masculina, é um dos principais obstáculos à emancipação da mulher. A afirmação foi feita hoje (23) pela educadora Vanderléia Daron, do Movimento de Mulheres Camponesas, ao participar do debate A Luta pela Emancipação das Mulheres na América Latina.O tema está sendo discutido na Primeira Conferência Internacional Vozes de Nuestra América, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que reúne até quinta-feira (25) cerca de 600 integrantes de movimentos sociais. O encontro está sendo realizado simultaneamente no Ceará.Segundo Vanderléia Daron, a jornada de trabalho das mulheres do campo costuma começar por volta das cinco horas da manhã, para alimentar os animais, e termina em torno da meia-noite. “As mulheres, além de trabalhar no campo com os maridos, são responsáveis por plantar, nos arredores da casa, os alimentos que serão consumidos pela família, cuidar dos animais, das crianças e dos idosos e das atividades domésticas.”De acordo com a pedagoga, o trabalho feminino no campo só começou a ser reconhecido depois da Constituição de 1988. “Antes a trabalhadora rural não tinha reconhecimento da sua profissão e só podia se aposentar depois que o marido morresse, com meio salário mínimo. Depois vieram outras conquistas, como o salário maternidade.”Vanderléia Daron apontou ainda as empresas transnacionais, que ocupam o campo com produção de soja, eucalipto e cana-de-açúcar, como responsáveis “por um forte êxodo rural com conseqüências ainda mais terríveis sobre as mulheres”. “Essas mulheres acabam indo para as cidades, especialmente as mais jovens, para trabalhar em atividades domésticas ou de esforço repetitivo. Em estados como o Rio Grande do Sul, elas costumam ir para os frigoríficos de abate de frango, trabalhando de 10 a 12 horas por dia, em condições de grande variação de temperatura. Algumas passam o dia inteiro cortando pescoço de galinha”,  disse a educadora.