Leite adulterado pode provocar queimaduras, mas não traz risco de morte, diz nutricionista

23/10/2007 - 18h23

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O consumo de leite contaminado com soda cáustica ou água oxigenada provocada, como o recolhido ontem (22) pela Operação Ouro Branco da Polícia Federal, pode provocar intoxicação, queimaduras e náusea em casos extremos, mas dificilmente resultaria em morte. A avaliação é de Carla Caputo, coordenadora do curso de Nutrição da Faculdade Alvorada, em Brasília.Em relação aos sintomas da ingestão dessas substâncias, a nutricionista cita náusea e queimaduras, mas ela ressalta que os efeitos dependem da dosagem. “Dependendo da concentração, elas causam reações químicas no organismo. A soda cáustica, por exemplo, pode provocar queimaduras na boca ou nos outros órgãos do sistema digestório”, explica a nutricionista.Os efeitos, segundo ela, podem ser mais severos em quem tiver o organismo menos resistente, como crianças. “Se a criança for muito pequena, podem acontecer algum tipo de queimadura e alguns tipos de ferimentos na pele”, destaca.Carla, no entanto, descarta o risco de morte nessas situações. “Acho muito difícil ocorrer alguma morte”, diz. “Seria necessária uma quantidade muito grande para isso.”Segundo a especialista, as adulterações cometidas pelos fraudadores são praticamente imperceptíveis a olho nu. “Dificilmente o consumidor vai enxergar alguma anormalidade na hora em que abre uma caixinha de leite”, ressalta.Para Carla, o consumidor que tiver receio pode recorrer ao leite desnatado, que, de acordo com ela, não é alvo desse tipo de fraude. Apesar de simples e rápidos, os testes para detectar anomalias na acidez do leite precisam de fitas especiais de papel, que mudam de cor em contato com o líquido e só podem ser adquiridas em laboratórios.Carla lembra que a adulteração do leite integral, como o ocorrido nas cooperativas mineiras, geralmente não acontece com o leite desnatado. Isso porque a intenção dos fraudadores é deixar o leite mais denso para parecer do tipo integral.A fraude, explica a nutricionista, ocorre por causa do interesse em obter aproveitamento econômico da gordura do leite. “Como a gordura do leite é cara para a indústria, às vezes eles tiram uma parte dessa gordura para poder fazer queijo, manteiga, iogurte”, afirma. “Para deixar o leite mais incorpado, eles então adicionam sal, água e açúcar.” A função da soda cáustica é reduzir a acidez acima do normal desse leite.Para diminuir as fraudes, a nutricionista defende a mecanização no processo de produção do leite e cita uma proposta do Ministério da Agricultura nesse sentido. “A proposta é que todos os leites cheguem a ser ordenhados de forma mecânica porque tem menos risco”, destaca.A nutricionista lembra ainda a obrigatoriedade de cada fazenda em ter um resfriador, o que anteriormente não era exigido pelo ministério. “O leite, assim que é coletado, tem de ir para o resfriador e ficar lá até ser coletado pelo caminhão-pipa”, afirma. De acordo com ela, o governo está financiando esses equipamentos para as pequenas propriedades.A operação Ouro Branco recolheu amostras de leite das empresas Calu e Parmalat, da Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande (Coopervale) e da Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro (Casmil). Todos os lotes analisados foram considerados impróprios para consumo humano.