Mudança nos critérios para sistema de cotas na Universidade de Brasília divide opiniões

02/10/2007 - 19h06

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Para o coordenador daentidade Educação e Cidadania de Afrodescendentes eCarentes (Educafro) em Brasília, Fernando Benício dosSantos, os novos critérios da Universidade de Brasília (UnB) para avaliar estudantes que concorrem a vagas pelo sistema de cotas é positivo, porque vai permitir que oaluno argumente a sua condição de negro com osjulgadores.“Antes, não eram divulgados os critériosde seleção por meio das fotografias. Com esse sistemade entrevista, o aluno vai estar de frente com o seu entrevistador, epode ter vários argumentos”.Ele tambémconsidera que, por causa da entrevista, os candidatos deverãoter mais convicção ao se declararem negros. “Aspessoas têm medo de se declararem negras. A partir do momentoem que é feita uma entrevista, a pessoa que se considerarnegra vai ter mais força”. Segundo Santos, aEducafro está trabalhando com a UnB para que se umaluno não for considerado negro no sistema de cotas possaconcorrer no sistema universal.Para a antropóloga daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Yvonne Maggie, amudança no sistema da UnB pode constranger os candidatos eacirrar as diferenças entre brancos e negros. “O candidatodeclara a sua raça e depois seráentrevistado por um comitê que julgará se a a declaraçãoé verdadeira ou mentirosa. Ou seja, o tribunal agora seráde fato público, ao vivo e a cores diante de um candidato que serájulgado não sei a partir de que critérios”.Maggie, que é contra o sistema de cotas peladefinição racial, teme que o processo possa fazer comque a sociedade brasileira se divida entre brancos e negros. “O queeles querem não é igualdade de acesso, mas a produçãode uma sociedade dividida entre brancos e negros, acreditando que vaiproduzir uma sociedade mais justa. Mas é preciso olhar emvolta. O mundo está fazendo o caminho inverso”.Deacordo com o Ministério da Educação, o sistemade cotas universitárias é aplicado atualmente por 35instituições de ensino superior: 16 federais e 19estaduais. As universidades adotam basicamente dois critériospara o sistema de reserva de vagas: o étnico-racial e osocial. As cotas étnico-raciais são destinadas àpopulação negra ou indígena e adotadas por 10universidades. Seis reservam vagas apenas para alunos de escolaspúblicas e outras 19 têm cotas para negros, indígenas,estudantes de escolas públicas e pessoas com deficiência.