Spensy Pimentel e Clara Mousinho
Da Agência Brasil
Brasília - Autor de um projeto dedecreto legislativo que poderia anular a atual regulamentaçãodas titulações de terras quilombolas, bem como odecreto presidencial sobre o tema, o deputado Valdir Colatto(PMDB-SC) nega que sua proposta tenha objetivos racistas e afirmaque, se o país tem uma dívida histórica com osnegros, também tem com outros grupos que vieram compor apopulação brasileira, como os italianos."O Brasil tem umadívida, por exemplo, com os italianos pobres que vieram daItália. Eles praticamente foram deportados de lá eninguém está reivindicando nada”, diz ele. “Paracitar, meu avô veio da Itália e na certidão denascimento dele está 'com pai ignorado', porque ele era opobre da família e foi obrigado a vir para cá. Para nãoreivindicar herança, colocaram 'pai ignorado', porque elepoderia ir lá reivindicar a herança.” “Se nósformos começar a discutir raça, etnia e origens, temmuita coisa. Claro que o negro veio preso, mas os outros tambémnão queriam vir. Temos que ver quem é menos ou maisbrasileiro nesse processo", continua ele.Colattoreconhece a “dívida histórica” com os negros, masdiz que ela é responsabilidade do Estado brasileiro: “Éuma dívida de governo e não de proprietárioparticular. Essa é a diferença. O Brasil tem essadívida, então é uma política social que ogoverno tem que fazer e tem que bancar isso. O que está sefazendo hoje é que o governo está tirando osproprietários legítimos”.Elenão acredita que sua proposta possa ser considerada racista:“Racismo é fazer esse decreto. Isso é criar conflitoracial, porque hoje todo mundo convive harmonicamente, e éisso que eu quero: paz no campo”. “Se você obedecera Constituição Federal, que diz que é parademarcar as terras que já ocupam, não tem briga comninguém.” Aexperiência do deputado de contato direto com a questãoquilombola se relaciona à comunidade de Invernada dos Negros,em Campos Novos (SC). Lá, segundo ele, a comunidade ocupa,atualmente, 414 hectares ereivindica ao todo 8 mil hectares, área em que existemestradas, indústrias e pequenos produtores instalados hádécadas. “Se criou um conflito. São 80 famíliasde brancos e 30 de quilombolas e convivempacificamente. Hoje não se dão mais e não sefalam, não vão na mesma igreja e não jogamfutebol junto. Isso criou conflito racial.”Colatto reconhece quepode haver situações, Brasil afora, em que comunidadesquilombolas foram expulsas ou coagidas a deixar suas terras, masacredita que isso só deverá ser discutido quando oartigo constitucional sobre o tema for debatido no Congresso, depoisque o decreto presidencial sobre o tema for anulado.“Eunão vou discutir o mérito. Eu estou discutindo amaneira como está sendo feito o procedimento de se definir asterras através desse decreto. Agora, cada caso é umcaso. Tem as verdades e as mentiras dos dois lados. Eu vou pelo que écerto”, diz ele.