Familiares revivem histórias de vítimas da ditadura durante lançamento de livro

29/08/2007 - 20h34

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Stuart e Zuleika Angel, Maria Lúcia, Lúcio e Jaime Petit da Silva, Virgílio Gomes da Silva, Fernando Santa Cruz. Esses são apenas alguns nomes de desaparecidos e mortos durante a ditadura militar dentre os 479 que tiveram suas histórias resgatadas no livro Direito à Memória e à Verdade, lançado hoje (29) no Palácio do Planalto.

Para Hidegard Angel, filha de Zuzu e irmã de Stuart, a publicação da obra marca um momento histórico na vida política brasileira. “Pela primeira vez, o governo brasileiro patrocina uma obra assumindo suas responsabilidades sobre essas barbaridades cometidas em nosso país”, diz a familiar, que participou de audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes do evento. Segundo ela, seu irmão foi torturado e morto nos porões da ditadura, em 1971, e sua mãe foi executada em 1976 por denunciar internacionalmente a morte do filho.

Laura Petit da Silva teve os três irmãos mortos durante o período da ditadura. A mais nova, Maria Lúcia, teve os restos mortais identificados 24 anos depois de seu desaparecimento, em 1972. Maria Lúcia Petit da Silva foi a única desaparecida na Guerrilha do Araguaia, até agora, que teve resgatados os seus restos mortais. Jaime e Lúcio nunca foram encontrados.

A irmã dos guerrilheiros lembra que o reconhecimento oficial de que eles foram mortos na resistência à ditadura militar traz alívio para a família. Mas, para ela, a única forma de identificar todos os mortos seria a abertura dos arquivos militares. “Até quando nós não vamos poder ter acesso às informações dos arquivos que possibilitariam o esclarecimento das mortes, a localização dos restos mortais? Porque a gente sabe que os arquivos existem”, afirma.

Laura Petit lembra ainda que as feridas causadas pelo período da ditadura não podem ser cicatrizadas se continuarem abertas. “Isso faz parte da história recente do país. Não é reabrir feridas, mas cicatrizar feridas. Enquanto a verdade não aparecer, é lógico que as feridas não podem ser cicatrizadas”, avalia.

A negociação para a abertura dos arquivos, cuja existência é negada pelos militares, também é um ponto importante a ser buscado na opinião de Gregório Gomes da Silva. Seu pai foi morto sob tortura em 1969. Segundo ele, a família sempre soube que Virgílio havia sido morto durante a ditadura, mas só em 2004 conseguiu a comprovação do óbito. “Ainda não temos o corpo dele, a localização está muito complicada, mas continuamos à procura”. Ele defende também a criação de uma “comissão da verdade” no Brasil para apurar os fatos que ocorreram até conseguir responsabilizar os culpados.

Ao falar em nome dos familiares, Elzita Santa Cruz, mãe de Fernando, que desapareceu quando tinha 24 anos, emocionou o público. “O único crime que ele cometeu foi querer uma pátria limpa e justiça social”, lembrou a mãe. Ela também pediu ao presidente uma resposta rápida para os 140 desaparecidos que ainda não tiveram seus restos mortais encontrados.