Pastoral do Povo de Rua critica "limpeza social", prefeitura rebate acusações

20/08/2007 - 22h42

Renato Brandão
Da Agência Brasil
São Paulo - O padre Júlio Renato Lancelotti acusou hoje (20) a Prefeitura de São Paulo de promover uma política de “limpeza social” contra a população que mora nas ruas do centro da capital paulista. Lancelotti disse que encaminharia o pedido ao secretário do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Ariel de Castro Alves. A declaração foi feita durante o Ato Pela Vida, na Praça da Sé, onde foram relembrados os três anos do assassinato desete moradores de rua da cidade. Até hoje, nenhum dos acusados foipunido.Ainda durante o ato, um morador de rua levou ao padre Lancelotti um cobertor supostamente molhado por caminhões da prefeitura, que faziam a limpeza do local. “O caminhão passa jogando água em cima do povo da rua. A Prefeitura de São Paulo é higienista”, criticou o religioso, com o cobertor molhado nas mãos.Em entrevista após o ato, o padre afirmou que essa é uma prática sistemática da prefeitura paulista: “Não tem jeito. É uma prática cotidiana. Todos os dias se joga água na população da rua, nos seus documentos, nos seus cobertores. E nós mostramos hoje a coberta pingando de água. A gente aqui presente e eles jogando água nas cobertas dos moradores.”Ele responsabilizou Andrea Matarazzo, secretário das subprefeituras paulistanas, pelo ato. “Pedimos ao Condepe que faça um ofício ao secretário Andréa Matarazzo. Ele diz que nós queremos que as pessoas fiquem nas ruas. [Mas] fica comprovado que a política do secretário é comprovadamente higienista. É fazer a cidade limpa expulsando os pobres com truculência e maldade”, afirmou.Ariel de Castro Alves fez as mesmas acusações à prefeitura e ao governo estadual. “Temos uma prefeitura e um governo estadual que têm políticas de higienização social, de limpeza, uma política extremamente fascista, inaceitável, de exclusão ainda maior dos pobres”, disse.Ele informou que já foram encaminhamos “vários casos de abusos praticados pela Guarda Civil Metropolitana”. E que será pedida “uma investigação para que o secretário Andrea Matarazzo explique por que a prefeitura está determinando que se jogue água na população de rua, com o intuito deliberado de expulsar a população do centro da cidade”.Em entrevista à Agência Brasil na noite de hoje, Matarazzo disse que as acusações são “leviandade pura”, “uma demagogia repetida para transformar em verdade”. Segundo ele, “a prefeitura tem procurado resolver o problema dos moradores de rua, através de convênio com o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da abertura de hotéis sociais, que você tira a pessoa do albergue – e ao invés de albergada, a pessoa passa a ser hóspede e ter um endereço”.O subsecretário explicou: “A gente procura resolver e fazer com que as pessoas não fiquem na rua, que durmam em uma cama, que comam em um prato e que tomem banho em um chuveiro. E isso conflita com a tese do seu padre Lancelotti e do seu Ariel, de que eles, para satisfazer sua culpa cristã, acham que ficam com pena das pessoas e não fazem nada por elas”.Para Matarazzo, o padre Julio Lancelotti terá de provar as acusações. O subsecretário ainda acusou o padre de ligar “várias vezes” para a subprefeitura: “Ele faz isso, liga sistematicamente para a Secretaria de Desenvolvimento Social para que tire os moradores de rua de frente da Catedral da Sé”.