Justiça tarda a chegar aos pobres, diz arcebispo de São Paulo

20/08/2007 - 21h34

Renato Brandão
Da Agência Brasil
São Paulo - O arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, disse hoje (20) que aguarda a retomada dos processos movidos pelo Ministério Público Estadual sobre os ataques em série contra moradores de rua, ocorridos nos dias 19 e 22 de agosto de 2004.Seis pessoas, sendo cinco policiais militares e um segurança, chegaram a ser acusadaspelos ataques, mas nenhuma está presa. Nenhum julgamento foirealizado e não há punidos.Há apenas um processo em andamento, que acusa um policial militar e o segurança pela morte da moradora de ruaconhecida como Maria Baixinha ou Tia. Ela teria testemunhado o crime, e morreu depois dos ataques. No ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo acatou apenas essa denúncia, depois de a 1ª Vara do Júri da Capital ter rejeitado integralmente as denúncias originais, ao alegar que não havia provas contra nenhum dos seis acusados no caso.“De toda a maneira, significa que a Justiça tarda a chegar para os pobres”, declarou o arcebispo.Para o coordenador da Pastoral do Povo de Rua, padre Júlio RenatoLancelotti, “a própria Justiça emperrou o caminho”, ao rejeitar, em2005, as denúncias apresentadas.“É um caminho difícil. Querdizer, é aquilo que o promotor disse: faltou sensibilidade ao juiz,quando a denúncia foi feita, de ter aceito a denúncia.Segundoele, a falta de interesse é a principal barreira para esclarecer osataques, especialmente porque envolveriam agentes de segurança doestado, associados ao crime organizado.“Não há interesse emelucidar o fato, que vai chegar no crime organizado da região central,vai mostrar que existe a cidade que se vê e a cidade que não se vê. Equem manda é a cidade que não se vê. É o crime organizado naqueladefinição de ser aquele que acontece com participação de agentes doestado”, disse, acrescentando que também há participação de segurançasparticulares clandestinos.Na avaliação de dom Odilo, a população pobre não consegue contratar bons advogados para suas causas. “Certamente há diferenças: quem tem melhores condições econômicas consegue fazer urgir mais a Justiça a seu respeito”.Segundo ele, o “ritmo da vida da sociedade e da economia” determina a exclusão do morador de rua, privado de ser integrado à sociedade.“Falta casa, falta trabalho, falta educação, faltam chances para [o morador de rua] participar da vida. Muitas pessoas ficam excluídas das possibilidades de acompanhar esse ritmo”.