Pisco, que está em ruínas depois do terremoto, era cidade turística

19/08/2007 - 17h25

Natalia Calisti
Enviada especial da Agência Telam
Pisco (Peru) - Em Pisco, tudo é desolação: casas derrubadas, paredes destruídas, gente que caminha com máscaras e faz filas intermináveis para receber uma porção de comida: a Plaza de Armas é o o centro de uma comunidade que não parou de tremer.Esta enviada especial esteve em Pisco há cinco meses. Pouco resta do que havia então, em um dos maiores centros turísticos do Peru. Pisco está a poucas horas da reserva de Paracas e de Ica, outro dos destinos favoritos dos viajantes que visitam o sul do país e onde mais se sentiu o tremor da última quarta-feira (15).A Plaza de Armas, hoje centro das equipes de resgate e tendas sanitárias, era um dos lugares mais pitorescos da cidade, preferido dos habitantes para dar uma volta quando caía o sol. De um lado, a Igreja da Santíssima Companhia de Maria, hoje em ruínas, e, do outro, a rua comercial, com bares e restaurantes onde se serviam comidas típicas como ceviche, chicha, tiradito de peixe, lanches e um doce confeitado com nozes parecido com as colaciones argentinas. Nada disso ficou de pé. Grupos de resgate da Defesa Civil e dos bombeiros caminham pelo bulevar, que se transformou em um emaranhado de cabos em meio aos escombros. O cheiro é forte. A poucos metros as equipes, que trabalham na remoção dos escombros de um hotel, conseguiam, ao fim deste sábado (18), resgatar entre dois e três corpos.O verão eterno, alimentado pela chegada permanente de turistas, acabou de repente. Acabaram-se as excursões à reserva natural de Paracas, para ver os lobos marinhos, e as viagens curtas ao deserto de La Huacachina, a laguna natural de Ica, a cidade mais próxima de Pisco, onde hoje fixa base a maioria das organizações humanitárias que trabalham na região.As casas velhas, essas de adobe que na quarta-feira tremeram até desmoronar, eram a marca pessoal dessa cidade que parecia parada na história. A umas dez quadras da Plaza de Armas, estava o Mercado Central, onde as cholas (mulheres indígenas) estendiam mantas de cores fortes e vendiam frutas, verduras e queijos artesanais e uma feira enorme, com bancas abarrotadas de roupas, mercadorias importadas de segunda categoria, livros, filmes e CDs pirateados - contraste brutal entre o romantismo de antanho e a exclusão mais crua que sofrem os países em desenvolvimento onde o falso é a única coisa que se pode comprar.A polícia nacional e os militares fecharam as lojas do Mercado Central e guardam, desde quarta-feira, a pouca mercadoria que sobrou. O povo foi buscar em seu mercado o que não tem e mais necessita, que é água e comida. Como não pode pagar, pegou o que pôde. Os saques se multiplicaram junto com o desespero.Pisco, cidade pequena, que crescia aos poucos, tranqüila, amável. A recomendação para a imprensa internacional é deixar a região após as 7 horas da noite, que é quando começa a escurecer, e usar apenas os veículos militares para andar pela região. Nada é igual depois do tremor.