Edla Lula
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Participação da Mulher nos Espaços de Poder foi tema das discussões noterceiro dia da 2ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres,no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. As palestrantes acusaram asestruturas de poder de machista e convocaram as cerca de 3 mil delegadasa forçarem a entrada no Executivo, Legislativo e Judiciário.Enquanto a participaçãofeminina na sociedade brasileira corresponde a 52%, a presença delas noparlamento é de 8,8%. Aumentar essa proporção para pelo menos a cotaprevista em lei, de 30%, foi um dos desafios lançados pelas palestrantesdurante a conferência. A deputada LuizaErundina (PSB-SP) atacou hoje (19) a atual estrutura partidária no Brasil afirmando que é "machista", "patriarcal" e "insuportável". Ao falar para cerca de 3mil mulheres que participavam da 2ª Conferência Nacional de Políticaspara as Mulheres, Erundina disse que as mulheres só conseguirão ocupara cota de 30% que lhes cabe nos parlamentos quando os partidospolíticos abrirem espaço."Se tivéssemos partidosrealmente democráticos, que não ficassem apenas na retórica dosdiscursos partidários, os próprios partidos já poderiam ter adotadoessas cotas nas suas eleições. Precisamos reforças nossa luta nospartidos. Eles têm uma hegemonia masculina, machista, patriarcal,insuportável", afirmou Erundina.Não foi só ela. Napalestra anterior, a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, havia usadogrande parte do seu discurso para reclamar do pequeno espaço dado pelospartidos às mulheres. "Vamos revolucionar os nossos partidos, que atéhoje mantêm uma estrutura machista", disse Luizianne, e conclamou asmulheres a se lançarem candidatas a vereadoras e prefeitas nas eleiçõesdo próximo ano. Erundina mostrou dados que apontam o quanto oBrasil está defasado em relação a outros países. O parlamento deRuanda, na África, por exemplo, é ocupado por 48,8% de mulheres. O da Suécia tem 45,3%;Costa Rica, 38.6%, e Argentina, 35%. O Brasil com seus 8,8% depresença feminina no Congresso, fica em 102º lugar numa lista de 129países. "Esses dados mostram quanto ainda temos que esbravejar parasairmos dessa condição vergonhosa da ausência de mulheres noparlamento", disse Erundina.Duas propostas dadeputada, que já foram encaminhadas em forma de projeto de lei,pretendem ampliar essa participação. A primeira é a criação da cota namesma proporção de 30% para a participação das mulheres na propagandapartidária de rádio e TV. A outra é a destinação de 30% da verbapública que os partidos recebem para atividades de incentivo àparticipação da mulher na política. "Sabemos que os partidospolíticos têm recursos públicos destinados à manutenção deles. É umrecurso importante. Mas está concentrado só nos homens. Os tesoureirossão homens. E a cada seminário, a cada reunião, a cada congresso que asmilimitantes dos partidos pretendem realizar para nos capacitarpoliticamente, temos que ir de pires nas mãos ao tesoureiro pediresmola", argumentou.No caso da propagandagratuita, ela disse que as mulheres não serão eleitas se não foremconhecidas. "As mulheres precisam sair da invisibilidade. Nósprecisamos sair do silêncio que o machismos e o patriarcalismo nosimpõem até os dias de hoje. Nós queremos estar nos meios de comunicaçãode massa. Nós queremos aparecer nos programas gratuitos de rádio e TV".Também participaram dopainel deste domingo, intitulado Participação das mulheres nos espaçosde poder, a ministra Eliana Calmon, do Supremo Tribunal Federal (STF)e a pesquisadora da Universidade Federal Luiza Bairros, feminista emembro do Movimento Negro Unificado.O congresso termina amanhã, quando serão divulgadas as deliberações.