Erich Decat
Da Agência Brasil
Brasília - Se não houver mudançasnas regras e parâmetros do setor, em três ou quatro anosa produção de soja exigirá desmatamento de novasáreas, avalia o professor Fernando Homem de Melo. Ele foi umdos participantes do debate Impactodos Biocombustíveis na Agricultura e na Indústria deFertilizante do Brasil, promovido hoje (16) pelo Laboratóriode Estudos do Futuro da Universidade de Brasília (UnB).Entretanto,na avaliação do professor, do Departamento deEconomia da Universidade de São Paulo (USP), aprodução de biocombustíveis pode ser feita deforma sustentável apoiada na tecnologia e principalmente nafiscalização governamental. Ele atribuiu ao recuo doplantio da soja a redução do desmatamento registrado noperíodo 2005-2006, divulgada na última quinta-feira(9). “Nesse período a que a ministra [Marina Silva]se referiu, não havia necessidade de aberturas de novasáreas”, avaliou. Segundo ele, nas duas últimas safraso Brasil deixou de plantar cerca de 4 milhões de hectares,metade dos quais relativa à soja. Cada hectare correspondeaproximadamente a um campo de futebol.
O grão registrou safrarecorde este ano, apesar da redução na áreaplantada. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) prevê expansão da sojicultura na próximasafra no Mato Grosso, que responde por mais de um quarto da produçãonacional, usando principalmente áreas que já têmocupação humana. O Instituto Socioambiental(ISA) identifica risco para a floresta amazônica e para o Xingu.
Questionado sobre a possibilidade dea corrida pelo biocombustível comprometer a produçãode alimentos, o professor Homem de Melo, especialista em economia agrícola,disse que o problema é “extremamente sério”.“Existem estudos de instituições renomadas, e quetambém foram publicadas na ForeignAffairs [revista científica norte-americana sobre relações internacionais], que dão projeçõespara 2020 extremamente preocupantes quanto aos preços dosgrãos em geral”, comentou.
De acordo com ele, osvalores previstos para a compra dos grãos no ano citado jáforam ultrapassados. “Já está ocorrendo uma inflaçãode preços de alimentos. O problema é que isso vaiafetar a segurança alimentar dos mais pobres, em todo o mundo,um vez que os produtos das cestas básicas são os quemais sobem”.
Para Fernando Homem de Melo, oBrasil poderá enfrentar uma possível falta de alimentosutilizando-se das reservas cambiais e dos acordos comerciais feitoscom os países vizinhos. “Hoje temos US$ 160 bilhõesde reservas. Temos o Mercosul, com a Argentina muito competitiva naprodução de alimentos de clima temperado, com tarifazero”, disse.
Durante o evento também foramdebatidas questões técnicas sobre a utilizaçãoe classificação dos biocombustíveis. Para oprofessor José Carlos Gaspar, do Instituto de Geociênciasda UnB, o maior erro cometido atualmente é a classificaçãodos biocombustíveis como fontes renováveis de energia.“Tem-se a idéia de que, se eu planto a soja todo o ano, issoé ser renovável. Mas se esquece que para plantar sojaeu preciso dos fertilizantes, e para produzi-los é preciso deamônia, fósforo e potássio, cujas fontes sãofinitas”, disse.
Segundo ele, o atual debate sobre osbiocombustíveis não é feito com base em dados,mas apenas ideologicamente. “Nós precisamos das informaçõespara discutir com propriedade, para que possamos aproveitar osbenefícios que virão e tentar reparar ou evitar eadministrar do modo mais competente possível aquilo que nãoé conveniente. Isso só se faz não negando quenão haverá impactos”, concluiu.