Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Representantes do Uruguai, Argentina e Chile participaram do 1º Seminário Anistiados do Brasil – Anistia e Direitos Humanos, encerrado hoje (16) na Câmara dos Deputados. Eles relembraram a Operação Condor, que resultou da união de vários regimes militares de países da América do Sul, do início da década de 1970 à década seguinte, para a repressão à esquerda organizada.“Foi uma operação em que militares, em nome da teoria da segurança nacional, perseguiram e colaboraram para perseguir brasileiros na Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Bolívia, e vice-versa”, contou o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Pedro Wilson (PT-GO).Para o jornalista uruguaio Roger Rodríguez, um dos palestrantes do encontro, “todos sofreram de uma forma ou de outra – uns como vítimas na própria carne, uns por familiares e outros simplesmente por terem vivido nesse tempo sem a possibilidade, por exemplo, de uma educação inteligente – repressão e tortura eram coisas da vida cotidiana”.Ele lembrou o seqüestro do casal uruguaio Lilian Celiberti e Universindo Rodríguez, residente no Brasil. A operação foi feita com a ajuda da polícia brasileira, no caso conhecido como "o seqüestro dos uruguaios". E disse querer ressaltar, em sua palestra, que foi uma ajuda dada aos militantes esquerdistas uruguaios. "As denúncias eram enviadas ao Brasil porque nós lá éramos censurados. O Brasil nos ajudou muito. Enviávamos os textos para Porto Alegre e eles publicavam, denunciando os desaparecimentos políticos do Uruguai”, contou.Entre os participantes do encontro estava também Micheas Gomes de Almeida, que usava o codinome Michel nos anos de ditadura. Aos 70 anos, ele é um dos sobreviventes da Guerrilha do Araguaia, nome dado ao movimento organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e combatido pelas Forças Armadas e pela polícia. Sobre as lembranças do conflito, disse traçar "um paralelo de ver o jornalista Herzog morto por falta de liberdade de imprensa e olhar você aqui, me entrevistando – é como estar olhando a conquista alcançada pelos nossos heróis, é assim que me sinto”.O jornalista Vladimir Herzog foi assassinado no dia 24 de outubro de 1975, no DOI-Codi de São Paulo. Então diretor da TV Cultura, havia sido intimado a prestar esclarecimentos, mas foi encontrado morto. Anos depois de divulgar o fato como suicídio, a União admitiu a culpa pela morte do jornalista.