Flávia Castro
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O grupo multidisciplinar coordenado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos chegou hoje (19) à cidade para investigar supostos indícios de execução por policiais durante a operação que deixou 19 mortos no Complexo do Alemão, na zona norte, no dia 27 de junho.Composto por dois peritos e um médico legista de diferentes estados brasileiros, o grupo se reuniu hoje com autoridades do governo estadual, da Polícia Civil e do Ministério Público, para discutir o direcionamento da investigação.De acordo com o coordenador da comissão de combate à tortura da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Pedro Montenegro, o trabalho dos peritos vai apenas colaborar com a investigação policial. "Não se trata, em absoluto, de intervenção federal ou de desconfiança de provas produzidas pelos peritos no Rio, mas apenas de seguir diretrizes nacionais em matéria de direitos humanos", explicou.Jorge Paulette Vanrell, médico legista do estado de São Paulo, informou que amanhã (20) o grupo irá ao Instituto Médico Legal (IML), onde será feita a análise dos laudos já realizados por peritos do órgão. Ele disse que não está descartada a possibilidade de ser pedida a exumação dos corpos.O chefe da Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, elogiou o trabalho dos peritos do IML, criticados por entidades de direitos humanos sob o argumento de que poderia acobertar supostas execuções. Entre as irregularidades citadas estaria uma suposta destruição de provas, como a ausência de roupas nos corpos dos homens mortos no confronto. A roupa poderia indicar o tipo de disparo e se houve execução, mas de acordo com o delegado Gilberto Ribeiro, os homens chegaram despidos por causa do atendimento médico ainda no hospital.O coordenador da 1ª Central de Inquéritos do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, promotor Gianfilippo Pianezzola, que também participou da reunião, disse ter determinado ontem (18) que a notícia-crime e o dossiê feitos pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio de Janeiro (OAB-RJ), sejam anexados à investigação aberta pela Promotoria Penal. O documento acusa a polícia de destruir provas e aponta execução de 13 pessoas. Pela manhã, o presidente do sindicato dos médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, já havia defendido o trabalho dos profissionais do IML e afirmado que é impossível, apenas com base nos laudos cadavéricos, concluir se houve execução.O grupo multidisciplinar deixará o Rio amanhã (20), após a ida ao IML, mas a investigação continuará na cidade de cada um dos integrantes. Pedro Montenegro não descartou a possibilidade de novas vindas ao Rio, mas disse que a próxima etapa, de análise de documentos, pode ser feita à distância. E que não há prazo para a conclusão das investigações.