Governo privilegia "grandes caloteiros do país", diz representante da agricultura familiar

19/07/2007 - 7h15

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A agricultura familiar produz 70% do alimento que chega às mesas de todo o país. No entanto, a manutenção dessa produção, uma questão de “soberania alimentar”, depende da renegociação da dívida do setor com o governo federal. A informação é da coordenadora do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), Maria José da Costa. Ontem (18) durante reunião com representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Fazenda, ela disse à Agência Brasil que, apesar dos avanços, o governo federal privilegia os médios e grandes agricultores. “Há uma pressão muito grande em torno das negociações com os grandes, que batem o pé na porta e conseguem levar. Mas, é preciso dar outro tratamento aos verdadeiros caloteiros desse país”, disse Costa em referência aos grandes agricultores.  "São eles que vêm rolando suas dívidas há décadas”.Para acirrar o descontentamento dos pequenos produtores e assentados da reforma agrária, na semana passada o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento anunciou a renegociação da dívida de curto prazo, contada a partir de maio, de grandes e médios agricultores, com R$ 6,5 bilhões. Com a medida, os produtores rurais poderão retirar em bancos oficiais financiamento para a safra entre 2007 e 2008.A decisão não agradou representantes da agricultura familiar e de assentamentos da reforma agrária. “Não é prorrogando uma parcela de investimento para a última cota ou o custeio para o próximo ano que irá resolver o problema”, afirmou o diretor de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Antoninho Rovaris. Ele defende medidas a longo prazo paralelas à concessão de crédito. “O que oferece condições de os produtores honrarem seus compromissos”.De acordo com o ministério, a agricultura familiar é responsável por quase 40% do total da produção agropecuária do país. A atividade gera cerca de 80% dos 17 milhões de postos de trabalho que existem no campo e é desenvolvida em 80% das propriedades rurais.