Acidente da Gol foi estopim da crise aérea, avalia sindicalista

07/07/2007 - 9h57

José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O acidente com o vôo 1907 da Gol, no dia 29 de setembro do ano passado, quando morreram 154 pessoas no norte de Mato Grosso, foi o estopim da crise aérea pela qual passa o país e um marco divisor no setor de controle aéreo do país. A opinião é do presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo, Jorge Botelho. Desse dia em diante, afirma ele, “nenhum controlador mais é maluco de pegar um número excessivo de aeronaves para operar”, como ocorria até então. Com essa decisão, ficou evidente a falta de pessoal e de estrutura no setor.Antes da queda no avião, ressalta Botelho, os controladores de vôo trabalhavam sobrecarregados – dependendo da região, o profissional podia operar até 20 aeronaves, quando o limite seria de no máximo 14. A partir do acidente, com a recusa dos controladores em trabalhar sem condições, começaram a surgir os problemas no tráfego aéreo brasileiro - atrasos de decolagens, confusões nos aeroportos e relatos de aviões quase se chocando em vôo. O momento ficou conhecido como “apagão aéreo”, resultando em duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Congresso Nacional para apurar responsabilidades.Segundo Botelho, após a tragédia com o vôo 1907 houve uma mudança de consciência no setor. Ninguém mais quis se expor nem colocar em risco a vida dos passageiros. “Os controladores não querem ser mais bucha de canhão para resolver o nó aéreo. Este nó foi passado para aqueles que o fizeram, o comando da Aeronáutica, a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)”, frisa.O que aconteceu, de acordo com ele, é que os controladores de vôo decidiram não “carregar mais nas costas” o aumento da demanda no tráfego aéreo que ocorreu nos últimos anos. “Os profissionais trabalhavam acima do limite. Veio, então, o acidente e a mudança de consciência. Há agora uma atenção maior na questão segurança, e ninguém quer se arriscar e ser indiciado criminalmente”, pontua.Esse novo comportamento dos controladores, segundo Jorge Botelho, não foi compreendido pela sociedade e criticado pela mídia, pois resultou na crise aérea. “Todos nos criticaram chamando a nossa postura de 'operação padrão'. Mas, na verdade, antes a gente operava fora do padrão, acima do limite, colocando em risco os passageiros e a responsabilidade por qualquer acidente era nossa. Agora, os controladores não querem mais assumir essa responsabilidade pelo nó aéreo”, finaliza.O Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo representa os profissionais civis que atuam no segmento aéreo – controladores de vôo e técnicos de eletrônica e de informação.