Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O presidente da Empresa de Pesquisa Energética(EPE), Maurício Tolmasquim, é um defensor das usinas deSanto Antônio e Jirau, no Rio Madeira, cuja viabilidadeambiental está em análise no Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).Destaca o alagamento previsto, baixo em comparação como de grandes usinas do país, e diz que os dois projetos sãoexcelentes tanto do ponto de vista energético como doambiental. Tolmasquim é engenheiro e economista, com doutoradopela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. Aseguir, trechos da entrevista concedida na última terça-feira(29), na sede da empresa, ligada ao Ministério de Minas eEnergia.Agência Brasil: O senhor estáconvicto de que não haverá problemas quanto àsedimentação e aos impactos ambientais no Rio Madeira?Maurício Tolmasquim: Eu tenhocerteza de que as usinas do Madeira são projetos excelentes,tanto do ponto de vista energético quanto ambiental. Em média,as usinas brasileiras alagam, para cada megawatt gerado, uma áreade 0,52 quilômetro quadrado. As usinas do Madeira alagam 0,08quilômetro quadrado. Se descontarmos a água que estána calha dos rios, esse valor cai para 0,03 quilômetroquadrado. São usinas praticamente a fio d'água, comalagamento pequeno, baixa queda, usarão tecnologia de turbinasde bulbo – serão 44 turbinas em cada uma. Além disso,na questão do sedimento, foi trazido ao Brasil um grandeespecialista mundial, chamado Sultan Alan, que é a grandereferência em sedimentologia. Ele foi a várias praias,analisou o tipo de areia e constatou que as condiçõessão excelentes, que não há riscos desedimentação acima do normal.ABr: Mas alguns ambientalistas apresentaramestudos demonstrando que por causa dos sedimentos as usinas teriamvida útil de apenas dez anos...Tolmasquim: Uma usina construída noMadeira tem vida útil de 100 anos, sem problema nenhum. Quantoà questão sobre os peixes, existem 350 espéciese só duas delas, de bagres, têm longa migração,nadando mais de 2 mil quilômetros. Uma delas parece que desovanos Andes. Para essa espécie, vai se construir um canal paraque possa migrar e desovar. Esses canais vão ser muitomelhores do que em outras usinas, como em Itaipu. Não tenhodúvida de que, do ponto de vista ambiental, essa é umaexcelente obra, que permitirá que a energia que éfundamental seja produzida sem ter danos ambientais. Sempre lembrandoque a opção de não se construir essas usinas éconstruir usinas mais poluentes. A eficiência energéticaé possível, mas ela não atenderá, por sisó, a necessidade de desenvolvimento de que o paísprecisa. Não poderá ser eólica, que fica muitocaro e que não atenderia as necessidades do país. Asoutras opções são as usinas a óleo ou acarvão, que aumentam as emissões de carbono. O Brasilaumenta a demanda por energia entre 5,3 a 5,5% ao ano. Épreciso 3,5 mil megawatts a 4 mil megawatts por ano, mesmo fazendoações de conservação.ABr: O país corre o risco de um novoapagão, sem as usinas do Madeira?Tolmasquim: Eu não acredito que issová ocorrer, porque vai estar sempre sendo licenciada algumausina nos estados, onde é facílimo obter licençapara usina a carvão, em quatro ou cinco meses. Para umahidrelétrica, leva dois ou três anos. Vãoproliferar as usinas a carvão, importando tecnologia da Chinae carvão de outros países.ABr: Alguns setores argumentam que olicenciamento ambiental é muito demorado. Qual sua opinião?Tolmasquim: É um processofundamental, para verificar se o empreendimento está apto paraser construído. Desde o novo modelo, criado em 2004, ficoudefinido que só se coloca em leilão o que tiver licençaambiental prévia concedida. Pelo modelo antigo, as usinas doMadeira já poderiam ter sido licitadas. Mas a gente achou queisso era um verdadeiro faz-de-conta, pois estava licitando umempreendimento que depois não ia poder sair do papel. Como aexpansão do setor energético depende dessa licença,é claro que é importante uma celeridade nesse processo,se não você não tem bem claro a possibilidade deconstrução de usinas. Quem está no setorenergético precisa garantir à populaçãoque não vai faltar energia.